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43.
Cantiga
VOLTAS
a este moto:
Deu, Senhora, por sentença
Amor, que fôsseis doente,
para fazerdes à gente
doce e fermosa a doença.
Não sabendo Amor curar,
foi a doença fazer
fermosa, para se ver,
doce para se passar.
Então, vendo a diferença
que há de vós a toda a gente,
mandou que fôsseis doente
para glória da doença.
E digo-vos, de verdade,
que a saúde anda envejosa,
por ver estar tão fermosa
em vós essa enfermidade.
Não façais logo detença,
Senhora, em estar doente,
porque adoecerá a gente
com desejos da doença.
Que eu, por ter, fermosa Dama,
a doença que em vós vejo,
vos confesso que desejo
de cair convosco em cama.
Se consentis que me vença
este mal, não houve gente
de saúde tão contente
como eu serei da doença.
100.
Esparsa
ao mesmo assunto
Não posso chegar ao cabo
de tamanho desarranjo,
que sendo vós, Senhora, «Anjo»,
vos queira tanto o «diabo».
Dais manifesto sinal
de minha muita firmeza,
que os «diabos» querem mal
aos «Anjos», por natureza.
86.
Cantiga
VOLTAS SUAS
a este moto alheio:
Se alma ver-se não pode
onde pensamentos ferem,
que farei para me crerem?
N'alma üa só ferida
faz na vida mil sinais;
tanto se descobre mais
quanto é mais escondida.
Se esta dor tão conhecida
me não vêm, porque não querem,
que farei para me crerem?
Se se pudesse bem ver
quanto calo, e quanto sento,
despois de tanto tormento
cuidaria alegre ser.
Mas se não me querem crer
olhos que tão mal me ferem,
que farei para me crerem?
69.
Cantiga
Voltas
a este moto alheio:
De dentro tengo mi mal,
que de fuera no hay señal.
Mi nueva y dulce querella,
es invisible á la gente;
el alma sola la siente,
que el cuerpo no es dino della.
Como la viva centena
se encubra en el pedernal
de dentro tengo mi mal.
68.
Glosa
a este moto:
Vos tenéis mi corazón.
Mi corazón me han robado,
y Amor, viendo mis enojos,
me dijo: fuéte llevado
por los más hermosos hojos
que desque vivo he mirado.
Gracias sobrenaturales,
te lo tienen en prisión,
y si Amor tiene razón,
Señora, por la señales
vos tenéis mi corazón.
40.
Cantiga
a este moto:
Menina fermosa e crua,
bem sei eu
quem deixará de ser seu,
se vós quiséreis ser sua.
VOLTAS
Menina mais que na idade,
se, para me querer bem,
vos não vejo ter vontade,
é porque outrem vo-la tem;
tem-vo-la, e faz-vo-la crua.
Porém eu
já tomara não ser meu,
se vós não fôreis tão sua.
Nos olhos e na feição
vos vi, quando vos olhava,
tanta graça que vos dava
de graça este coração;
não no quisestes de crua,
por ser meu:
se outrem vos dera o seu
pode ser fôreis mais sua.
Menina, tende maneira
que ainda não venha a ser -pois não quereis quem vos quer, -
que queirais quem vos não queira.
Olhai, não me sejais crua;
que pois eu
quero ser vosso e não meu,
sede vós minha e não sua.
89.
Cantiga
a este moto:
Irme quieto, madre,
á aquella galera,
con el marinero
á ser marinera.
VOLTAS
Madre, si me fuere,
dó quiera que vó,
no lo quiero yo,
que el Amor lo quiere.
Aquél niño fiero
hace que me muera,
por un marinero
á ser marinera.
Él, que todo puede,
madre, no podrá,
pues el alma vá,
que el cuerpo se quede.
Con él, por quién muero,
voy, porque no muera;
que, si es marinero,
seré marinera.
Es tirana ley,
del niño Señor,
que por un amor
se desenhe un Rey:
pues desta manera
quiere, yo me quiero
por un marinero
hacer marinera.
Decid, ondas, ¿cuándo
vistes vos doncella,
siendo tierna y bella,
andar navegando?
|Pues| más no se espera
daquel niño fiero,
vea yo quién quiero,
sea marinera.
57.
Cantiga
a este moto:
Esconjuro-te, Domingas,
pois me dás tanto cuidado,
que me digas se te vingas:
viverei menos penado.
VOLTAS
Juravas-me que outras cabras
folgavas de apacentar;
eu, por nao me magoar,
fingia que eram palavras.
Agora d'arte te vingas
d'algum meu doudo pecado,
qu'inda [que] queiras, Domingas,
não posso ser enganado.
Qualquer cousa busca o seu;
a fonte vai para o Tejo,
e tu para o teu desejo
por te vingares do meu.
De mi te esqueces, Domingas,
como eu faço do meu gado.
Praza a Deus que, se te vingas,
que moura desesperado.
Na fantasia te pinto;
falo-te, responde o monte;
busco o rio, busco a fonte,
endoudeço, e não o sinto.
Domingas! no vale brado;
responde o eco:-Domingas!
E tu ainda te não vingas
de me ver doudo tornado?
Qualquer cousa busca o seu;
a fonte vai para o Tejo,
e tu para o teu desejo
por te vingares do meu.
De mi te esqueces, Domingas,
como eu faço do meu gado.
Praza a Deus que, se te vingas,
que moura desesperado.
Na fantasia te pinto;
falo-te, responde o monte;
busco o rio, busco a fonte,
endoudeço, e não o sinto.
Domingas! no vale brado;
responde o eco:-Domingas!
E tu ainda te não vingas
de me ver doudo tornado?
88.
Cantiga
a este moto alheio
Vosso bem querer, Senhora:
vosso mal milhor me fora.
VOLTAS
Já'gora certo conheço
ser milhor todo tormento
onde o arrependimento
se compra por justo preço.
Enganou-me um bom começo;
mas o fim me diz agora
que o mal milhor me fora.
Quando um bem é tão danoso
que, sendo bem, dá cuidado,
o dano fica obrigado
a ser menos perigoso.
Mas se a mim, por desditoso,
co bem me foi mal, Senhora,
co vosso mal bem me fora.
65.
Cantiga
a este mato seu:
Enforquei minha esperança;
mas Amor foi tão madraço
que lhe cortou o baraço.
VOLTAS
Foi a Esperança julgada
por sentença da Ventura,
que, pois me teve à pendura,
que fosse dependurada.
Vem Cupido co a espada,
corta-lhe cerco o baraço.
Cupido, foste madraço!
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