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Quingentésimo ano (274)

por cheia, em 30.09.24

Cantiga
 a esta cantiga velha:
Falso cavaleiro ingrato,
enganais-me:
vós dizeis que eu vos mato,
e vós matais-me                                                                                                                                                                                                                    
                                                                                                                                                                                                                       
                                                                                                             
VOLTAS
Costumadas artes são
para enganar inocências,
piadosas aparências
sobre isento coração.
Eu vos amo, e vós, ingrato,
magoais-me,
dizendo que eu vos mato,
e vós matais-me.
Vede agora qual de nós
anda mais perto do fim,
que a justiça faz-se em mim
e o pregão diz que sois vós.
Quando mais verdade trato,
levantais-me
que vos desamo e vos mato,
e vós matais-me.

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Quingentésimo ano (273)

por cheia, em 29.09.24

117.
Labirinto
do Autor a queixar-se do mundo
Corre sem vela e sem leme
o tempo desordenado,
dum grande vento levado;
o que perigo não teme
é de pouco exprimentado.
As rédeas trazem na mão
os que rédeas não tiveram:
vendo quando mal fizeramdum grande vento levado;
vendo quando mal fizeram
a cobiça e ambição
disfarçados se acolheram.
A nau que se vai perder
destrue mil esperanças;
vejo o mau que vem a ter;
vejo perigos correr
quem não cuida que há mudanças.
Os que nunca sem sela andaram
na sela postos se vêm:
de fazer mal não deixaram;
de demónio hábito têm
os que o justo profanaram.
Que poderá vir a ser
o mal nunca refreado?
Anda, por certo, enganado
aquele que quer valer,
levando o caminho errado.
É para os bons confusão
ver que os maus prevaleceram;
posto que se detiveram
com esta simulação,
sempre castigos tiveram.
Não porque governe o leme

em mar envolto e turbado,
quem tem seu rumo mudado,
se perece, grita e geme
em tempo desordenado.
Terem justo galardão
e dor dos que mereceram,
sempre castigos tiveram
sem nenhüa redenção,
posto que se detiveram.
Na tormenta, se vier,
desespere na bonança
quem manhas não sabe ter.
Sem que lhe valha gemer
verá falsar a balança.
Os que nunca trabalharam,
tendo o que lhes não convém,
se ao inocente enganaram
perderão o eterno bem
se do mal não se apartaram.  

 

 

 

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publicado às 07:51

Quingentésimo ano (272)

por cheia, em 28.09.24

112.
Trovas
mandadas ao Vizo-Rei,
com o mato anterior:
Conde, cujo ilustre peito
merece nome de Rei,
do qual muito certo sei
que lhe fica sendo estreito
o cargo de Vizo-Rei;
servirdes-vos de ocupar-me,
tanto contra meu planeta,
não foi senão asas dar-me

o cargo de Vizo-Rei;
servirdes-vos de ocupar-me,
tanto contra meu planeta,
não foi senão asas dar-me,
com as quais vou a queimar-me,
como faz a borboleta.
E se eu a pena tomar
que tão mal cortada tenho,
será para celebrar
vosso valor singular,
dino de mais alto engenho.
Que, se o meu vos celebrasse,
necessário me seria
que os olhos da águia tomasse,
só para que não cegasse
no sol de vossa valia.
Vossos feitos sublimados,
nas armas dinos de glória,
são no mundo tão soados
que em vós de vossos passados
se ressuscita a memória.
Pois aquele animo estranho,
pronto para todo efeito,
espanta todo o conceito,
como coração tamanho
vos pode caber no peito.
A clemência que asserena
coração tão singular,
se eu nisso pusesse a pena,
seria encerrar o mar
em cova muito pequena
Bem basta, Senhor, que ag

A clemência que asserena
coração tão singular,
se eu nisso pusesse a pena,
seria encerrar o mar
em cova muito pequena
Bem basta, Senhor, que agora
vos sirvais de me ocupar,
que assi fareis aparar
a pena com que algüa hora
vos vereis ao Céu voar.
Assi vos irei louvando,
vós a mim do chão erguendo,
ambos o mundo espantando:
vós, co a espada cortando,
eu, co a pena escrevendo. A clemência que asserena
coração tão singular,
se eu nisso pusesse a pena,
seria encerrar o mar
em cova muito pequena
Bem basta, Senhor, que agora
vos sirvais de me ocupar,
que assi fareis aparar
a pena com que algüa hora
vos vereis ao Céu voar.
Assi vos irei louvando,
vós a mim do chão erguendo,
ambos o mundo espantando:
vós, co a espada cortando,
eu, co a pena escrevendo. 

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Manigâncias

por cheia, em 27.09.24

Manigâncias

Doce outono, suave outubro, com o orçamento ao rubro, o Governo aposta tudo, na compra dos votos dos reformados, desta vez só para os mais pobres, menos mal

Vai dar até 200 euros, nas pensões de outubro, não vá diabo tecê-las e o país tenha de ir, outra vez, para eleições, cumprir legislaturas não é connosco

Assim, os reformados poderão correr às lojas dos chineses, comprar coisas inúteis, para entupirem as casas e ficar com a sensação de que vivem na abastança

Mas atenção, não entrem em euforia, não é para sempre, é só um mês: o de outubro, o mês do Orçamento, esse magno documento, que permite ao Governo beneficiar quem quiser, se conseguir a sua aprovação

É por isso que o Presidente anda tão excitado, todos os dias reza a todos os Santinhos, para que o Orçamento seja aprovado, dizendo que desta vez é diferente: há guerras, incertezas, o diabo a quatro, esquecendo-se de acrescentar que é o seu Partido que está no Governo, e que fez tudo o que estava ao seu alcance, para lá o meter

Criou uma crise, para com o António Costa correr, não queria acabar o mandato sem, o PSD, no Governo, ver .

 

“ Fracos políticos fazem fraca a forte gente.  ( Camões)

 

José Silva Costa

 

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Quingentésimo ano (271)

por cheia, em 27.09.24

101.
Volta
a D. António, senhor de Cascais,
que prometera a Luís de Camões seis
galinhas recheadas por uma cópia
que Ihe fizera, e Ihe mandava, por
princípio de paga, meia galinha
Cinco galinhas e meia
deve o Senhor de Cascais;
e a meia vinha cheia
de apetites para as mais.

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Quingentésimo ano (270)

por cheia, em 26.09.24

Mote
Descalça vai pela neve:
Assim faz quem Amor serve.
Voltas
Os privilégios que os reis
Não podem dar, pode Amor,
Que faz qualquer amador
Livre das humanas leis.
Mortes e guerras cruéis,
Ferro, frio, fogo e neve,
Tudo sofre quem o serve.
Moça fermosa despreza
Todo o frio e toda a dor.
Olhai quanto pode Amor
Mais que a própria natureza:
Medo nem delicadeza
lhe impede que passe a neve.
Assi faz quem Amor serve.

Por mais trabalhos que leve,
A tudo se ofereceria;
Passa pela neve fria
Mais alva que a própria neve;
Com todo o frio se atreve...
Vede em que fogo ferve
O triste que o Amor serve.

 

 

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Quingentésimo ano (269)

por cheia, em 25.09.24

Mote alheio
Menina dos olhos verdes,
Porque me não vedes?
Voltas
Eles verdes são,
E têm por usança
Na cor, esperança
E nas obras, não.
Vossa condição
Não é de olhos verdes,
Porque me não vedes.
Isenções a molhos
Que eles dizem terdes,
Não são de olhos verdes,
Nem de verdes olhos.
Sirvo de giolhos,
E vós não me credes
Porque me não vedes.
Havia de ser,
Por que possa vê-los,
Que uns olhos tão belos.

 

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Quingentésimo ano (268)

por cheia, em 24.09.24

Mote
Descalça vai pera a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa e não segura.
Voltas
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura;
Vai fermosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro o trançado,
Fita de cor de encarnado…
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura;
Vai fermosa e não segura.

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Quingentésimo (267)

por cheia, em 23.09.24

60.
Cantiga
a este moto alheio:
Caterina bem promete;
eramá I como ela mente I
VOLTAS
Caterina é mais fermosa
para mim que a luz do dia;
mas mais fermosa seria
se não fosse mentirosa.
Hoje a vejo piadosa,
amanhã tão diferente
que sempre cuido que mente.
Caterina me mentiu
muitas vezes, sem ter lei,
mas todas lhe perdoei
por üa só que cumpriu.
Se, como me consentiu
falar, o mais me consente,
nunca mais direi que mente.
Má, mentirosa, malvada,
dizei: para que mentis?
Prometeis, e não cumpris?
Pois sem cumprir, tudo é nada.
Não sois bem aconselhada;
que quem promete, se mente,
o que perde não no sente.
Jurou-me aquela cadela
de vir, pela alma que tinha;
enganou-me; tem a minha;
dá-lhe pouco de perdê-la.
A vida gasto após ela,
porque ma dá se promete,
mas tira-ma quando mente.
Tudo vos consentiria
quanto quisésseis fazer,
se esse vosso prometer
fosse prometer um dia
todo então me desfaria
convosco; e vós, de contente,
zombaríeis de quem mente.
Prometou-me ontem de vir,
nunca mais me apareceu;
creio que não prometeu
senão só por me mentir.
Faz-me enfim chorar e rir;
rio quando me promete,
mas choro quando me mente.
Mas pois folgais de mentir,
prometendo de me ver,
eu vos deixo o prometer,
deixai-me vós o cumprir:
haveis então de sentir
quanto fica mais contente
o que cumpre que o que mente.


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Quingentésimo (266)

por cheia, em 22.09.24

51.
Glosa
a este mato alheio:
Campos bem-aventurados,
tornai-vos agora tristes,
que os dias em que me vistes
alegre são já passados.
Campos cheios de prazer,
vós, que estais reverdecendo,
já me alegrei com vos ver;
agora venho a temer
que entristeçais em me vendo.
E, pois a vista alegrais
dos olhos desesperados,
não quero que me vejais,
para que sempre sejais
campos bem-aventurados.
Porém, se por acidente,
vos pesar de meu tormento,
sabereis que Amor consente
que tudo me descontente,
senão descontentamento.
Por isso vós, arvoredos,
que já nos meus olhos vistes
mais alegrias que medos,
se mos quereis fazer ledos,
tornai-vos agora tristes.
Já me vistes ledo ser,
mas despois que o falso Amor
tão triste me fez viver, .
ledos folgo de vos ver,
porque me dobreis a dor.
E se este gosto sobejo
de minha dor me sentistes,
julgai quanto mais desejo
as horas que vos não vejo
que os dias em que me vistes.
O tempo, que é desigual,
de secos, verdes vos tem;
porque em vosso natural
se muda o mal para o bem,
mas o meu para mor mal.
Se perguntais, verdes prados,
pelos tempos diferentes
que de Amor me foram dados,
tristes, aqui são presentes,
alegres, já são passados.

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