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Quando, Senhora, quis Amor que amasse
essa grã perfeição e gentileza,
logo deu por sentença que a crueza
em vosso peito amor acrescentasse.
Determinou que nada me apartasse:
nem desfavor cruel, nem aspereza;
mas que em minha raríssima firmeza
vossa isenção cruel se executasse.
E pois tendes aqui oferecida
esta alma vossa a vosso sacrifício,
acabai de fartar vossa vontade.
Não lhe alargueis, Senhora, mais a vida;
acabará morrendo em seu ofício,
sua fé defendendo e lealdade.
Luís de Camões
Quando vejo que meu destino ordena
Que, por me exprimentar, de vós me aparte,
Deixando de meu bem tão grande parte,
Que a mesma culpa fica grave pena;
O duro desfavor, que me condena,
Quando por a memoria se reparte,
Endurece os sentidos de tal arte
Que a dor da ausencia fica mais pequena.
Mas como póde ser que na mudança
D'aquillo que mais quero, estê tão fóra
De me não apartar tambem da vida?
Eu refrearei tão aspera esquivança:
Porque mais sentirei partir, Senhora,
Sem sentir muito a pena da partida.
Luís de Camões
A justiça e a política
Todos contra a Procuradora
A revolta começou e engrossou por investigar os que se julgam acima da justiça, nunca lhe perdoarão
A indignação e os abaixo assinados: primeiro trinta, cinquenta, cem, uma multidão, quando as investigações chegaram aos intocáveis, aos poderosos, aos Governantes, que já há muito vinham dando sinais de estarem incomodados por a justiça estar a funcionar
Mesmo que tenha sido descurado o seu investimento, como aconteceu com todos os serviços públicos, fazendo com que se amontoem os processos, que os hospitais fechem, que as pessoas tenha de ir dormir para as portas dos centros de saúde, conservatórias, registos, que alunos tenham começado o ano escolar sem professores a seis disciplinas… (tudo normal para os arrogantes Governantes)
Ainda que faltem poucos meses para complementar o mandato, as turbas não param de pedir que fale, que a demitam, que o Presidente da República intervenha, que seja chamada à Assembleia da República, que não tem perfil para o cargo, e até a Ministra da Justiça se pronunciou!
Tudo isto, para prepararem o terreno, para a desejada, pelas elites, reforma da justiça, para que não sejam incomodadas, escutadas, presas, e possam combinar todas as negociatas e atuações, longe do olhar e dos ouvidos dos eleitores, que não têm nada que se indignar com os podres dos bastidores da porca da política
Não percebi a ida da Procuradora a Belém. Se há separação de poderes, por que razão terá de ir a outro órgão de soberania? Não será condiciona-la/o?
Parece haver consenso, entre os dois maiores Partidos, para cozinharem a reforma da justiça.
Por que razão não fazem abaixo assinados a pedirem mais professores, mais médicos…?
José Silva Costa
Quando se vir com água o fogo arder,
Juntar-se ao claro dia a noite escura,
E a terra collocada lá na altura
Em que se vem os ceos prevalecer;
Quando Amor á Razão obedecer,
E em todos for igual huma ventura,
Deixarei eu de ver tal formosura,
E de a amar deixarei depois de a ver.
Porém não sendo vista esta mudança
No mundo, porque, em fim, não póde ver-se,
Ninguem mudar-me queira de querer-vos.
Que basta estar em vós minha esperança,
E o ganhar-se a minha alma, ou o perder-se,
Para dos olhos meus nunca perder-vos.
Luís de Camões
Quando o sol encoberto vai mostrando
Ao mundo a luz quieta e duvidosa,
Ao longo de huma praia deleitosa
Vou na minha inimiga imaginando.
Aqui a vi os cabellos concertando;
Alli co'a mão na face, tão formosa;
Aqui fallando alegre, alli cuidosa;
Agora estando quêda, agora andando.
Aqui esteve sentada, alli me vio,
Erguendo aquelles olhos, tão isentos;
Commovida aqui hum pouco, alli segura.
Aqui se entristeceo, alli se rio:
E, em fim, nestes cansados pensamentos
Passo esta vida vãa, que sempre dura.
Luís de Camões
Quando de minhas mágoas a comprida
Maginação os olhos me adormece,
Em sonhos aquella alma me apparece,
Que para mi foi sonho nesta vida.
Lá n'huma soidade, onde estendida
A vista por o campo desfallece,
Corro apoz ella; e ella então parece
Que mais de mi se alonga, compellida.
Brado: Não me fujais, sombra benina.
Ella (os olhos em mi co'hum brando pejo,
Como quem diz, que ja não póde ser)
Torna a fugir-me: torno a bradar: Dina...
E antes que diga mene, acórdo, e vejo
Que nem hum breve engano posso ter.
Luis de Camões
Quando a suprema dor muito me aperta,
Se digo que desejo esquecimento,
He fôrça que se faz ao pensamento,
De que a vontade livre desconcerta.
Assi de êrro tão grave me desperta
A luz do bem regido entendimento,
Que mostra ser engano, ou fingimento,
Dizer que em tal descanso mais se acerta.
Porque essa propria imagem, que na mente
Me representa o bem de que careço,
Faz-mo de hum certo modo ser presente.
Ditosa he, logo, a pena que padeço,
Pois que da causa della em mi se sente
Hum bem que, inda sem ver-vos, reconheço.
Luís de Camões
Qual tem a borboleta por costume,
que, enlevada na luz da acesa vela,
dando vai voltas mil, até que nela
se queima agora, agora se consume;
tal eu correndo vou ao vivo lume
desses olhos gentis, Aónia bela;
e abraso-me, por mais que com cautela
livrar-me a parte racional presume.
Conheço o muito a que se atreve a vista,
o quanto se levanta o pensamento,
o como vou morrendo claramente.
Porém, não quer Amor que lhe resista,
nem a minha alma o quer; que em tal tormento,
qual em glória maior, está contente.
Luís de Camões
Pues lágrimas tratáis, mis ojos tristes,
y en lágrimas pasáis la noche y día,
mirad si es llanto este que os envía
aquella por quien vos tantas vertistes.
Sentid, mis ojos, bien esta que vistes,
y si ella lo es, oh gran ventura mía!
por muy bien empleadas las habría
mil cuentos que por esta sola distes.
Mas una cosa mucho deseada,
aunque se vea cierta, no es creída;
cuanto más esta, que me es enviada.
Pero digo que aunque sea fingida,
que basta que por lágrima sea dada,
por que sea por lágrima tenida.
Luís de Camões
Presença bella, angelica figura,
Em quem quanto o Ceo tinha nos tẽe dado;
Gesto alegre de rosas semeado,
Entre as quaes se está rindo a Formosura:
Olhos, onde tẽe feito tal mistura
Em crystal puro o negro marchetado,
Que vemos ja no verde delicado
Não esperança, mas inveja escura:
Brandura, aviso, e graça, que augmentando
A natural belleza co'hum desprezo,
Com que mais desprezada mais se augmenta:
São as prizões de hum coração, que prêzo,
Seu mal ao som dos ferros vai cantando,
Como faz a serêa na tormenta.
Luís de Camões
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