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DE AlTEMIRA FIZ UM RAMO
Este é o título de um dos livros, que o Senhor Francisco Carita Mata, autor dos blogs: https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt e https://apeadeirodamata.blogs.sapo.pt, me ofereceu, o outro é a XXIII Antologia da Associação Portuguesa de Poetas, 2019, o que muito agradeço.
Uma obra feita de muitas joias, algumas muito antigas, um testemunho escrito, para que o passado chegue au futuro
Este livro preserva a alma de um povo, de uma região: do Alto Alentejo, onde o autor guarda os tesouros da sua terra: A Aldeia da Mata
Para aguçar o apetite e espevitar a curiosidade, transcrevo alguns trechos dos muitos tesouros que o livro, De Altemira Fiz um Ramo, encerra.
Quadras de Amor e Desamor
Enganos e Desenganos)
“ Todos me mandam cantar
Mas ninguém me dá dinheiro
Pensam que a minha garganta
É o fole de algum ferreiro.”
Quando eu era…
“Quando eu era pequenina
Usava fitas e laços
Agora que sou casada
Uso os meus filhos nos braços.”
“Quando eu era solteirinha/pequenina
Usava sapato branco
Agora que sou casada
Nem sapato nem tamanco”.
Cantigas de Oito Pontos
“Amor p´ ra toda a vida”
Sepultei minha tristeza
Na raiz do alecrim
Já não achas com certeza
Outro amor igual a mim.
Na palma da tua mão
Tá outra palma nascida
Se me souberes amar
Tens amor p´ ra toda a vida.”
Bem-haja, por preservar o nosso património
A nossa maior riqueza
São muitos séculos de arte e beleza
Num mundo globalizado, é ele que nos diferencia.
Puritanismo
Destruam todas as estátuas
Queimem todos os livros
Senhores, novos, censores
A vossa sensibilidade não quer cores
Os rebanhos obedecem aos pastores
Basta que alguém escreva na internet: “Mate-se”
Que a manada, acéfala, corre a apoiar
Mesmo que não saibam do que se trata!
O que interessa é seguir a moda
Estar entre os milhões, nunca sozinho!
Pensar dá muito trabalho, o melhor é clicar
Apoiar tudo o que seja destruição
Acabar com tudo o que seja civilização
Enquanto os políticos andam de telemóvel na mão
Para saberem o que dizem as redes sociais
Tentam manter-se na crista da onda
Sem opinião, não sabem o que fazer
À primeira gritaria, dizem que sim
Mas, se as pessoas de bom senso se manifestarem
Voltam atrás, dão umas desculpas esfarrapadas
Como aconteceu com o Isaltino Morais, por causa do cartaz a condenar os abusos sexuais, na Igreja
E com o Rui Moreira, por causa da estátua dedicada ao Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.
José Siva Costa
Despedida
O verão está a despedir-se, este ano, abruptamente
Com chuva, que é muito bem-vinda, mas a destruição, não
O clima está muito doente, como tem mostrado, por todo o lado
Tão depressa está tudo a arder, queimando o que levou anos a crescer
Como tudo engole, com a força a força da água mole
Valha-nos o sol que, mesmo quente, parece não estar tão doente
Que continua a fazer germinar a semente
A amadurecer tudo, a iluminar o dia e a alegrar a nossa mente
Com o tempo doente ou não, temos de seguir em frente
Os que conseguem sobreviver a tantas calamidades
Que destroem tudo, incluindo vilas e cidades
Que não escolhem idades, utilizando todas as brutalidades
Como que a castigar-nos pelo desrespeito pela Natureza
Que, cada vez, nos presenteia com fenómenos de maior dureza
Será que conseguiremos aprender alguma coisa com a sua clareza?
Ou contentar-nos-emos com tanta perda de riqueza
Com meio mundo a morrer de pobreza
Sem sabermos o que fazer, sem termos nenhuma certeza
Num tempo em que a inteligência artificial sabe tudo
Por que razão não lhe perguntamos como poderemos acabar com o que nos aflige:
As guerras, a fome, as doenças, a ganância, as desigualdades, as calamidades, o orgulho
Tanta coisa, tanto sofrimento, para tão pouco tempo
Aproveitemos para melhorarmos o nosso comportamento
Enquanto, ainda, estamos a tempo
Se queremos evitar maior sofrimento
Não perdendo o resto do alento.
José Silva Costa
Flores de verão
O sol acende o brilho das flores
Os namorados acendem um beijo
Num canteiro escondido e perfumado
Esquecem-se que o dia está quase terminado
Para a lua embevecida, nem um olhado
Absortos no seu beijo estrelado
Não viram o mundo passar a seu lado
Ficaram presos na melodia de um fado
Como se a vida se tivesse esgotado
Não deram pela presença do sol, acordado
Só quando um sorriso apressado
Lhes entrou no peito, cansado
Os braços se abriram, mostrando o seu estado
Acordando-os do sonho encantado
Abandonaram o banco, pelo perfume esmagado
Caminharam de braço dado
Por todo o jardim, de lado a lado
Alimentando-se do perfume inalado
Como quem vive do olhar do seu amado
De um encanto nunca acabado
Numa casa com o teto enfeitado
E flores como telhado
Onde repousa o ar, parado
Como é bom viver enamorado!
José Silva Costa
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