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Adeus junho, até para o ano!
Junho está a terminar
O mês dos Santos Populares está a acabar
Foi um mês de muita folia e alegria
Como que uma preparação para as férias
Estamos todos desejosos de recuperar o tempo perdido
Parece que não aprendemos, com a pandemia, o devido
Continuamos nas correrias, como se nada tivesse acontecido
Para além da pandemia, estamos a sofrer as consequências de uma guerra
Continuamos “ naquele ingano d´alma ledo e cego/ Que a fortuna não deixa durar muito…” (1)
Não podemos ser só cigarras, também temos de ser formigas
O verão passa num ápice
O outono e o inverno podem ser frios: um inferno!
Temos de nos preparar para os novos tempos
A falta de energia pode ser um grande contratempo
No verão, ainda, podemos dormir ao relento
Mas no inverno o melhor é termos um bom teto
O que todos os pobres ambicionam
Onde possam, as poucas horas de descanso, passar
Como é bom termos uma casa para nos acarinhar!
Todos os dias quando chegamos cansados do trabalho, do duro dia
Num mundo tão desigual muitos nunca, esse carinho, vão saborear
Nem sequer têm uma almofada onde o sono deitar.
José Silva Costa
Sonhos de verão
Sonhamos com as férias, novas paisagens, novas cidades, gentes diferentes
Num encontro fraterno de beijos, abraços e apertos de mão
Há barcos parados nos cais, à espera que lhes soltem as amarras
Sonham com novos horizontes, querem as velas enfunadas pelos ventos
Os sonhos de verão são de alegria, de alguma magia, de desejos fugientes
Cada um procura lançar, ao mundo, as suas sementes
Os dias são grandes, sem espartilhos, quentes, de muito brilho
Um sonho, um desejo, um abraço, um beijo podem ser o rastilho
Para uma grande mudança, para muitos e bons passos de dança, para renovar a esperança
Até para mudar de continente, para seguir em frente, encontrar o amor, para sempre
Conhecer gente diferente, atraente, mais sol no poente, uma luz, um caminho com sentido
Um grito de liberdade, sem anos nem idade, preservar a alegria da mocidade
No verão é tempo de reflexão, de contabilizar o passado e projetar o futuro
De ler um livro maduro, ver uma peça de teatro, ver um filme e sonhar com tudo
Saborear o tempo, sem pressas nem compromissos, aproveitar a preguiça sem pensar em enguiços
A constante aceleração da maneira como gastamos o tempo, nas correrias diárias de deitar os bofes pela boca, fez com que não saibamos fazer uma pausa para meditar, para descansar completamente: “desligar da corrente”
Hoje, só procuramos mais velocidade, mais perigos e aventuras, desafios, adrenalina, torturas
Correr de um lado para o outro, na ansia de abarcar o mundo, depois, vai-se a ver e sentimos um vazio profundo
Não conseguimos contemplar o nascer do sol, o silêncio noturno na natureza, ouvir o cantar do rouxinol
Tanta coisa para absorver, que não conseguimos ver nem apreender por causa de andarmos sempre a correr
Por muito que corramos, não apertaremos todas as mãos, nem afugentaremos a solidão
Paremos para ver o que nos rodeia, a beleza da areia, onde enterramos os sonhos, quando, no verão, vamos a banhos
Temos mais um verão, para aproveitar, assim saibamos o que de melhor poderemos fazer.
José Silva Costa
A Praia
No dourado do sol salgado, vejo o mar ondulado
Em cada onda vai o vento penteado
As gaivotas andam de lado em lado
Incomodadas pela invasão do seu chão sagrado
Quando os banhistas ocupam cada quadrado
O areal em pouco tempo ficou todo ocupado
Não há grão de areia destapado
As toalhas compõem o atoalhado
Namorados bebem o sol molhado
Como quem quer fugir a ser espiado
A areia tem um aspeto asseado
Já ninguém deixa lixo, na areia, enterrado
Todos têm cinzeiros para colocarem o cigarro, apagado
Como é bom termos um mundo educado!
Onde ninguém é mal tratado
Já todos sabem, das bandeiras, o significado
Até o nadador salvador é escutado e respeitado!
Com o mar devemos ter todo o cuidado
Ninguém pode, com ele, estar descansado
De um momento para o outro pode mostrar-se revoltado
Talvez não goste do que lhe fazem, fica zangado
Já me pregou um grande susto, ao ponto de pensar que ficava lá sepultado
Fui, por ele, com muita força, para o fundo, arrastado
Depois, expulsou-me com tanta violência, que fiquei magoado
Nunca mais me esqueci do recado
Nunca larguei o meu filho que, quando lhe deitei a mão ficou, nos meus braços, bem apertado
Tivemos a sorte do nosso lado!
Para podermos contar o que se tinha passado.
José Silva Costa
Santos populares
Ruas embebedadas de fumo de sardinhas assadas
Manjericos com quadras e promessas de amor eterno
Quem quebrar o encantamento vai para o inferno
Alcachofras queimadas, para ver se o amor é correspondido (1)
Com as ruas apinhadas, os moradores acotovelam-se nas sacadas
Ninguém quer perder pitada das ruas engalanadas
Os estrangeiros ficam boquiabertos com as desgarradas
Participam nos bailaricos, não conseguem ficar indiferentes ao apelo daquelas gentes
Entram no ritmo, comem uma sardinha assada, bebem um copo de vinho tinto, e ficam contentes
No mês de junho, Lisboa não dorme, seja rico ou pobre, a noite é de folia
Até à noite de Santo António, todo o tempo é pouco para ensaiar as marchas
Na noite de Santo António as marchas são rainhas, nas outras são as sardinhas
Depois de tantos dias a treinar o ritmo, não há quem os pare
Vão continuar até ao fim do mês, até o São pedro lhes retirar a chave
Não perdem tempo, começam a pensar na marcha do próximo ano
As marchas são uma competição muito renhida
Pela qual são capazes de dar o pão e a vida
Lisboa é uma senhora muito bonita, esbelta, com grandes tradições e muito atrevida
Capaz de encantar e prender até o forasteiro mais esquivo
Com ela, quem não tiver juízo, fica para sempre preso ao seu umbigo
E vai calcorrear as suas colinas, todos os dias, como castigo
Quantos forasteiros, marinheiros, negociantes ficaram a ver navios, pelo postigo!
Sem possibilidades de, um dia, terem um jazigo
Com os olhos posto no panteão luzidio
Acabam por ficar nas ruelas ao vento e ao frio
Sem cheta para pagar a renda ao senhorio
Tem tantos encantos como perigos!
José Silva Costa
(1)
A alcachofra tem o poder de adivinhar a realização do casamento, devendo para isso ser queimada ou chamuscada na véspera do dia 24, à meia-noite, na fogueira de São João - "Em louvor de São João, para ver se fulano me quer bem ou não" - e deixada ao relento, enterrada num vaso. O casamento está garantido se a planta reflorir no dia seguinte. (Infopédia)
Junho
Junho, mês dos Santos Populares
Das marchas e dos manjericos
Dos arrais e dos petiscos
Da sardinha assada e bailaricos
Das férias, da praia e namoricos
Verão, calor, sabor a sal
Um mês de muito sol e alegria
Para receber o verão com toda a energia
Muita folia e magia nas noites quentes
Felizes dias e bons ambientes
Para regozijo das gentes
Mostrando que as sociedades recreativas estão vivas
Que as cidades não estão perdidas
As saudades continuam entretidas
Ao sabor das correrias das vidas
Tão disputadas pelas audienças
Tanta concorrência!
Não faltam bons eventos
O difícil é escolher
Um mês que convida ao lazer
O muito que os nossos olhos querem ver
A impossibilidade de tudo usufruir
As férias porvir
O cansaço já se está a sentir
O descanso demora a sorrir
O verão proporciona convívio e encontros
Matar as saudades e os amigos abraçar.
José Silva Cos
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