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Amor & guerra (28)

por cheia, em 31.05.21

 Amor & guerra (28)

O General António de Spínola foi investido nas funções de Presidente da República em 15 de Maio 1974, Mas o seu mandato foi curto, em 30 de Setembro de 1974, renunciou ao cargo, por não estar de acordo com o rumo que o Movimento das Forças Aramadas estava a dar ao país

Foi substituído pelo general Costa Gomes, que exerceu o cargo até à posse do candidato eleito, nas eleições presidenciais de 176, o General Eanes

Firmino não voltou para casa, ao fim de três dias do seu desaparecimento, chegou a triste notícia, muito temida, desde o primeiro dia do seu desaparecimento, de que tinha sido assinado por um grupo de homens armados, que lhe exigiram as chaves do carro, mas que ele recusou entregar

Foi mais um rude golpe para a Bárbara, que já tinha visto assassinarem os seus pais, e não menos para os pais e o irmão do Firmino. A Sara, também, lavada em lágrimas, não escondeu o desgosto pela perda do padrasto, de quem tanto gostava, ainda que, sempre, dissesse que nunca desistiria de procurar o seu progenitor

A Bárbara culpava-se pela morte do companheiro, por não ter continuado a insistir que fossem para Lisboa, em vez de se ter acomodado à enganosa vida de Luanda

Disse, aos pais e ao irmão do Firmino, que não ficaria mais em Angola, e tentou convencê-los a acompanharem-nas. Mas eles não aceitaram, dizendo que, ao contrário dela, não tinham nada em Lisboa, para começarem uma nova vida

Como gostava muito que eles as acompanhassem, disponibilizou-se a ajudá-los a iniciarem uma nova vida, em Portugal. Mas nem mesmo assim conseguiu que se desligassem de Angola, onde tinham nascido e sempre tinham vivido

Vendo que não os conseguia demover de continuarem em Angola, tratou de comprar uma viagem para Lisboa, para ela e para a filha

Com muita tristeza, deixaram o seu Continente, os seus cheiros, os amigos: tudo ficou para trás, e voaram para a mítica Europa, ondem não tinham ninguém, nem nunca tinham estado, o único apoio que tinham era o dinheiro que os pais lhe tinham deixado no Banco, o que não era pouco!

Mas, a Sara tinha um, secreto, interesse em ir para Portugal, nunca o tinha revelado, nem pensava revelá-lo, estava muito bem guardado: era a esperança de encontrar e conhecer o pai

Ainda em 1974, ao contrário de todas as outras colónias africanas, que só viram a sua independência reconhecida em 1975, a Guiné-Bissau viu reconhecida a sua independência, por Portugal a 10 de setembro de 1974, já tinha declarado a independência unilateralmente em 24 de setembro de 1973

1975, foi o ano da independência das restantes colónias africanas:

Moçambique a 25 de Junho de 1975

Cabo Verde a 5 de julho de 1975

São Tomé e Príncipe a 12 de julho de 1975

 

Angola foi a última, a 11 de Novembro de 1975

Desmantelou-se o império. Se o 11 de março, de 1975, foi uma iniciativa do General António de Spínola, para travar a entrega das colónias, ao ser derrotado, terá contribuído para que tudo fosse decidido quanto antes.

Continua.

 

 

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publicado às 07:58

Amor & guerra (27)

por cheia, em 27.05.21

Amor e guerra (27)

Depois do inesquecível primeiro de Maio de 1974, os trabalhadores ganharam força, por uma vez, conseguiram desequilibrar o prato da balança a seu favor

Criaram comissões de trabalhadores, e os sindicatos exigiram melhores condições de trabalho e melhores renumerações, conseguindo bons aumentos de ordenado, o que fez com que o poder de compra ultrapassasse, em muito, a produção

As importações subiram em flecha, não havia supermercados, alguns bens de consumo escasseavam, nos talhos, a quem pedisse por favor, arranjavam meio frango, enquanto havia

Foi sol de pouca dura! Mas foi um tempo em que todos se sentiam gente

Foi uma primavera, onde todo o país floriu, havia uma alegria contagiante, foi como se tivéssemos saído da prisão

Em Luanda, as coisas iam de mal a pior: raptos, mortos, tiroteios, roubos

A Bárbara já tinha pedido ao Firmino para ter muito cuidado. Mas, ele continuava a dizer que tinha nascido em Luanda, que conhecia muito bem a cidade, que não tinha receio de nada

Parecia que ainda não tinha percebido, que tudo tinha mudado, que quem sempre tinha sido mandado, já não queria ser criado, sentia que a hora de mandar tinha chegado

Em contrapartida o Carlos estava muito feliz, por ter ao seu lado a mulher e o filho, de quem tanto gostava e que tanto apoio lhe davam

 Estava muito contente com o novo emprego, ainda ficou mais, quando os sindicatos dos bancários conseguiram um aumento de dois mil escudos mensais. É caso para dizer que quem está ao pé do lume é que se aquece

Não havia um sistema de saúde, cada grupo profissional tinha o seu apoio médico:

Casas do povo, para os trabalhadores rurais, caixas dos pescadores, para os pescadores, para os outros havia caixas de previdência

As seguradoras tinham postos médicos, para atenderem os que tinham seguros de acidentes de trabalho

Depois do 25 de Abril, o sindicato dos bancários do sul e ilhas, que já tinha um posto médico, com especialidades escassas nos consultórios privados, como oftalmologia e médicos dentistas, que, nos consultórios, para se conseguir uma consulta, se tinha de meter uma cunha à empregada, que geria as marcações

Por isso, o Carlos sentia-se um privilegiado, no meio de tanta miséria, por todo o lado

Vivia-se um clima de reivindicações, depois de tanto tempo sem liberdade, todos queriam melhores condições de vida

Ocupavam-se casas devolutas, e o sindicato dos bancários ocupou um palacete, na rua Marquês de Fronteira, onde instalou um centro clínico

Foram dias loucos, difíceis de descrever, que, nem quem passou por eles, os consegue entender

Em Luanda, o Firmino saiu para ir visitar os clientes, como fazia todos os dias, mas não voltou para casa, passaram dois dias e a família não sabiam nada dele

Estavam, todos, muito preocupados temendo o pior, desde que se começou a falar na independência de Angola, que a cidade se tornou num barril de pólvora, onde tudo podia acontecer.

Continua.

 

 

  

 

 

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publicado às 07:55

Amor & guerra (26)

por cheia, em 24.05.21

Amor & guerra (26)

Na madrugada de 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas decidiu fazer um golpe militar, para acabar com a ditadura e pôr fim à guerra

Cansados de muitas comissões, na guerra, vendo que os políticos não tinham nenhuma solução, depois do mais prestigiado General ter publicado um livro, dizendo que Portugal tinha de alterar o seu relacionamento com as colónias, só lhes restava tentar mudar o regime

Foi uma grande aventura, ninguém sabia o que ia acontecer, felizmente correu bem, mas podia ter terminado num banho de sangue, bastava o atirador, do carro de combate do Regimento de Cavalaria nº7, ter cumprido a ordem de fogo contra o carro de combate da Escola Prática de Cavalaria, para a Rua do Arsenal, em Lisboa, ter ficado manchada para sempre

Foi um longo dia, até o poder passar para os militares, o Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, pediu para que o Movimento das Forças Armadas nomeasse um representante, para receber o Poder. Escolheram o General António de Spínola

Estava derrubada a ditadura! Mas o que é que se seguiria, ninguém sabia, foram quase dois anos de ziguezagues

As comemorações, do primeiro de Maio de 1974, foram uma coisa indiscritível, todas as avenidas foram poucas e estreitas, para tanta gente em festa. Ainda não havia divisões, era como se fossem todos irmãos, foi uma alegria imensa, que em poucos meses se desvanecia

Por todo o império português, de Cabo Verde a Timor, foi como se tivesse sido abalado por um grande terramoto

Se, neste pequeno retângulo europeu, não se sabia o que aconteceria, como seria, por esse mundo fora, onde se dizia que era território português!

A Miquelina, o marido e o filho deixaram a pensão, foram viver para a nova casa, na Amadora, um rés-do-chão, perto da estação ferroviária

O Carlos começou a trabalhar, como telefonista, num Banco. A Miquelina arranjo trabalho, na Escola, do filho, estava muito feliz, por ter o filho, por perto

Em Luanda, a Bárbara estava, cada vez, mais nervosa. Não havia autoridade, desde o dia 26 de Abril de 1974, que não se sabia quem mandava, os guerrilheiros do MPLA faziam operações de stop, interrogavam as pessoas, tentavam saber se simpatizavam ou não com eles, ninguém estava em segurança.

 

Continua

 

 

 

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publicado às 07:59

Amor & guerra (25)

por cheia, em 21.05.21

Amor & guerra (25)

A Bárbara, quando soube da publicação e do conteúdo do livro do General António de Spínola, ficou muito arrependida de ter ficado em Luanda, porque desde que viu como os pais foram assassinados, que nunca mais se sentiu segura, em Angola

Naquela casa, felizmente, mais ninguém tinha visto as barbaridades a que ela assistiu

Por isso, estavam muito mais confiantes que ela, numa transição pacífica, coisa que para ela era impossível, para mais com três movimentos: três galos para um poleiro!

Fosse qual fosse a solução, que a história escolhesse para o fim da guerra contra Portugal, não seria fácil um entendimento entre os três movimentos

 

Depois de marcado o casamento, no Registo Civil, o Carlos, a Mequilina e o Miguel apanharam camioneta para Vieira do Minho, para informarem, a Mariana e o João, de tantas e boas novidades

Foi uma excelente surpresa, quando viram o Carlos, a caminhar, como se não tivesse nada, acompanhado da Mequilina e do Miguel

Mariana quis saber e ver como funcionava a prótese, porque da última vez, que tinha visto o filho, não se tinha apercebido da amputação, tendo sabido pelo marido

O Miguel começou por informar, os pais, a data do casamento, acrescentando que casariam só pelo Registo Civil

Os pais ficaram um pouco tristes, porque estavam habituados a que todos casassem pela igreja. Mas, devido à circunstância de já terem um filho, aceitaram a decisão dos noivos

De seguida informou-os sobre o emprego, que os ex-patrões da Mequilina lhe tinham arranjado, e o que ia fazer. Só faltava saber para onde iam viver, uma vez que ainda não tinham tido tempo para procurar casa

Tinha de ser uma escolha e uma decisão dos dois. Gostavam de conseguir alugar uma casa, que fosse um lugar agradável, para os três

O casamento foi uma cerimónia simples, até porque não tinham dinheiro para grandes despesas

Gostavam de ficar mais uns dias nas suas terras, com os seus pais, o Miguel queria estar mais tempo com os avós, principalmente os paternos, que mal conhecia

Mas a vida é mesmo assim! Não ficamos onde gostamos, temos de ir à procura duma melhor vida, que até pode ser pior, mas é onde temos possibilidades de obter mais rendimentos, para fazer face às duras dificuldades da vida

Dois dias depois, apanharam o comboio, para Lisboa. O Miguel ficou encantado com a viagem, pela primeira vez, deu atenção à paisagem

Ficaram numa pensão, enquanto não alugaram a casa. Não conseguiram alugar casa, em Lisboa, para onde o Carlos iria trabalhar, tiveram de ir viver para a Amadora, onde as rendas eram mais baixas.

Continua.

  

       

 

 

 

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publicado às 07:52

Amor & guerra (24)

por cheia, em 17.05.21

Amor & guerra (24)

A 16 de Março de 1974, Duzentos militares, entre eles 33 oficiais, saíram do Regimento de Infantaria nº 5, nas Caldas da Rainha, em direção a Lisboa

A meio caminho foram travados, tendo 11 dos oficiais sido presos, o que fez com que fizesse acelerar os preparativos e antecipar a data da revolução do 25 de Abril, para poderem libertar os camaradas que tinham sido presos

 

Depois de uma longa viagem, de comboio, o Carlos, chegou, finalmente, a Braga

Tanto tempo sem ver a cidade parecia que estava completamente diferente

Apanhou um táxi, estava ansioso por voltar a abraçar a Miquelina e o Miguel. Também queria conhecer os futuros sogros, a quem queria agradecer terem ajudado, a Miquelina e o Miguel, durante todos os anos em que não pôde ganhar para a família

Quando bateu à porta, e a Miquelina a abriu e o viu, foi uma alegria indiscritível, todos ficaram muito contentes, incluindo os pais da Miquelina

Ela ficou tão feliz, por ver que andava muito bem, com a prótese, quase que não se notava que a tinha

Enquanto a abraçava e beijava confidenciou-lhe que já tinha emprego, que ia pedi-la em casamento, que tinham quinze dias para tratarem tudo, até começar a trabalhar

Os olhos sorriram, como agradecimento, finalmente iam casar-se, acabar com o falatório, por viverem juntos e terem um filho, sem serem casados

Assim que casassem, já não tinham nada a dizer, eram marido e mulher

Há noite, antes de se sentarem à mesa, para o jantar, o Carlos encheu-se coragem e pediu a Miquelina em casamento

Os rostos de Francisca e António brilharam de radiosos, não só lhe deram o consentimento, como elogiaram a filha por ter um bonito noivo

Orgulhavam-se do bonito neto, que já tinham, e vê-los, aos três, tão felizes, era tudo o que ambicionavam

Durante o jantar, informaram os pais de que no dia seguinte iriam, ao Registo Civil, tratar do casamento, para que quando fossem a Vieira do Minho, ver os pais dele, já saberem a data, a fim de preparem a cerimónia, que contaria só com os noivos e os pais

Finalmente, iam dormir juntos, esperaram tanto tempo por aquele momento, tinham tanto que falar, onde é que iam morar, com que dinheiro é que se iriam governar, perguntou, a Miquelina

Carlos sossegou-a, dizendo que lhe tinha sido atribuído uma pensão, pela deficiência que, com o ordenado de telefonista, daria para viverem

Estava tudo bem encaminhado para uma nova vida a três, mas longe dos pais, que iam ficar, novamente, sozinhos, depois de anos com tão boa companhia

Miquelina tinha pena de deixar os pais, que se mostraram tão felizes, por terem a companhia da filha e do neto. Mas não podia fazer nada, o futuro dela, do filho e do marido estava na capital.

Continua.

 

 

 

 

 

   

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publicado às 07:49

Amor & guerra (23)

por cheia, em 14.05.21

Amor & Guerra (23)

A Bárbara e a Sara continuavam a descobrir a bonita cidade de Lunda, tendo como guia o Firmino, que estava admirado da Bárbara não ficar grávida

Não sabia como abordar o assunto, uma vez que ela já tinha tido a Sara, talvez o problema não fosse dela. Quando, ainda, não provaram que são reprodutivas, o que se pensa é que o problema é da mulher, o que não era o caso da Bárbara, que já tinha dado à luz uma linda menina

Mas, como desejava muito ter uma filha ou um filho dela, teve de se encher de coragem e dizer-lhe que estranhava ela não ficar grávida

Ela disse-lhe que, também, estava admirada. Mas, como já tinha tido a Sara, não lhe tinha dito nada, porque o problema poderia não ser dela

Perguntou-lhe se se lembrava de ter tido papeira. Respondeu-lhe que tinha tido e que estivera muito mal

Aconselhou a ir ao médico, para ver o que dizia, e se lhe mandava fazer exames, porque quando a papeira atinge os testículos, pode provocar a infertilidade

Quando pensou que o problema poderia não ser dela, não sentiu a tristeza, que se abateu sobre ele, quando ela lhe disse que a papeira provocava  infertilidade, coisa que não sabia

Decidiu marcar uma consulta, queria ter a certeza, se podia ou não ser pai, o que tanto desejava

Foi ao médico, que lhe prescreveu as análises. Feitas as análises, estava ansioso que chegasse o dia de saber os resultados. A Bárbara tudo fazia para o animar. Mas, nada o animava, desde que soubera, que a papeira lhe poderia ter provocado a infertilidade, que não era o mesmo homem

Ao receber os resultados, o pior cenário concretizou-se, não poderia ser pai. A Bárbara tentou suavizar-lhe a dor, dizendo que já tinham uma linda filha, e que ela nem conhecia outro pai

O Firmino concordou, a partir daquele momento, a Sara seria a única filha deles, e tudo faria para ser um pai exemplar

Daí em diante, a alegria voltou a reinar, era preciso aproveitar todos os momentos com a sua rainha e a princesa, tinha de lhes proporcionar dias felizes

Só não podiam passear mais tempo juntos, porque a Sara não podai faltar às aulas, como aluna exemplar e muito inteligente, tinha um lugar guardado numa das melhores Universidades

Na cabeça da Bárbara e do Firmino já se construíam grandes cenários, para o futuro brilhante da Sara, enquanto ela ainda estava completamente descansada sobre o assunto, não sabendo, ainda, o que escolher para o seu futuro

Muitos pais não deixam os filhos ser crianças, sobrecarregam-nos, com tantas atividades, extra curriculares não permitindo que brinquem em liberdade, não tendo oportunidade de saborear o ar livre, da rua

Hoje, os bebés nascem, já, com um horário a cumprir, têm de se levantar cedo, para irem para o berçário, não os deixam dormir até o sono sorrir.

Continua.

 

 

 

  

 

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publicado às 07:58

Amor & Guerra (22)

por cheia, em 13.05.21

Amor & guerra (22)

 

O Carlos surpreendeu os terapeutas e os médicos. Em Alcoitão, em poucos dias adaptou-se à prótese, e começou andar sem o apoio das canadianas. Quiseram perceber o que é que tinha contribuído para um empenhamento tão grande

Disse-lhes que a motivação vinha do filho e da namorada. Tinha de começar uma vida nova, sair do hospital, ir viver com eles, trabalhar, esquecer aqueles dolorosos tempos

No Hospital militar, sabendo da extraordinária adaptação, os médicos informaram-no de que lhe iriam dar alta

Queria muito informar, a Miquelina, das boas notícias. Mas, infelizmente, os pais dela não tinham telefone, escreveu-lhe uma carta

Com o fim da recuperação, começavam as preocupações com o futuro. Assim que tivesse alta, iria falar com os ex-patrões da namorada, saber se lhe arranjariam emprego, onde seria o local de trabalho, qual a renumeração, para poderem organizar a vida, a três

Mal teve alta, foi tratar de saber sobre o emprego. Foi muito bem recebido, pelos ex-patrões da Miquelina, que ficaram muito felizes por, finalmente, poder ir viver com a Miquelina e o Miguel.

Desejaram, muitas felicidades, para os três e entregaram-lhe uma carta, para apresentar na sede do Banco, para onde, certamente iria trabalhar

Agradeceu-lhes tudo o que tinham feito pela Miquelina, o Miguel e ele, que nunca esqueceria o muito que lhes devia

Dirigiu-se para o Banco, onde foi recebido pelo diretor do departamento de pessoal que, depois de saber da deficiência do Carlos, lhe perguntou se gostaria de ser telefonista

Carlos disse-lhe que seria ótimo, atendendo ao problema que tinha na perna esquerda

Disse-lhe para se apresentar, ao trabalho, no início do mês seguinte, e que não se preocupasse com o desempenho do cargo, porque lhe seria dado um curso de formação profissional

Ficou tão contente que só queria informar a Miquelina. Dirigiu-se para a estação ferroviária de Santa Apolónia, para apanhar o comboio, para Braga

 

No início da década de 70, apesar do esforço com a guerra, as entidades financeiras e as grandes empresas registavam um bom momento. Quase todos os dias havia aumentos de capital, os Bancos todos os dias admitiam pessoal!

Junto dos emigrantes, os Bancos nacionais angariavam muitas divisas, todos queriam enviar as poupanças para Portugal, com a esperança de construírem uma casa

A 6 de Janeiro de 1973, iniciou-se a publicação do semanário Expresso

A 19 de Abril de 1973, em Bad  Münstereifel, na Alemanha,  foi criado o  Partido Socialista.

Continua.

 

     

 

 

 

 

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publicado às 07:58

Amor & guerra (21)

por cheia, em 10.05.21

 Amor & Guerra (21)

O Carlos, finalmente, recebeu a prótese. Estava desejoso de a começar a utilizar

Já o tinham avisado de que a adaptação não era fácil. Tentou colocar-se em pé e andar, mas não conseguiu, nem com o auxílio de uma canadiana. Era uma coisa estranha, que o seu corpo não reconhecia, como acontece, quando colocamos, a primeira vez, uma prótese, seja para o que for

Os enfermeiros pediram-lhe para não desesperar, por que com o tempo tudo ia ao lugar, e com a força de vontade que ele tinha, ainda era mais fácil

Queria ir a Braga, para ver o filho e a namorada, conhecer os pais dela e agradecer-lhes, por a terem acolhido, quando ficou gravida e não pode continuar a trabalhar, em Lisboa

Estava-lhes muito grato, por terem tido uma atitude muito diferente, do que alguns pais fazem. Negando-se a ajudarem as filhas e, por vezes, também os netos, quando lhes aparecem em casa, por terem sido abandonadas pelos pais dos filhos

Como é que, ainda, há pais que se negam a ajudarem as filhas, no momento, em que estão tão fragilizadas, por terem sido rejeitadas, por quem as enganou, com promessas de que as amariam para sempre, e ainda, por cima, grávidas ou com um filho nos braços!

Também queria aproveitar para fazer uma visita aos pais, acompanhado da namorada e do filho

Os enfermeiros compreendiam a pressa em, voltar à terra dele, abraçar e beijar o filho e a namorada, mas aconselharam-no a esperar mais uns dias, até conseguir utilizar a prótese, mesmo que fosse com a ajuda de uma canadiana

Uma coisa era ter o apoio de uma canadiana, outra era a de ter de utilizar duas canadianas, por não conseguir utilizar a prótese, dando impressão, a quem o visse, de que estava inválido

 

O General António De Spínola preconizava um país pluricontinental, com estados na Europa, em África e na Ásia. Coisa que os movimentos de libertação não aceitavam

Uma coisa nova, nunca vista, em que pouca gente acreditava. Isto antes do Movimento dos Capitães desencadear a revolução do 25 de Abril de 1974

Depois dos Capitães tomarem conta do poder, ainda era mais difícil implementar um sistema, que não tinha pés, nem cabeça

Com que força impúnhamos condições, aos movimentos de libertação, para a independência das colónias, quando antes não o conseguimos fazer?

Na descolonização, os políticos fizeram o que os militares lhe ordenaram, porque eram eles que mandavam

Aqueles, que defendem que a descolonização deveria ter sido diferente, deveriam ter tido oportunidade de a fazer

Naquelas condições não tínhamos mais nenhuma opção, senão reconhecer-lhes a independência.

Continua.

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publicado às 07:59

Amor & guerra (20)

por cheia, em 07.05.21

Amor & guerra (20)

Para os pais da Miquelina foi um grande choque, saberem que o futuro genro tinha uma perna amputada, mas nunca o demonstraram à filha. Sempre com palavras animadoras foram-lhe dizendo que podia muito bem fazer uma vida normal e que poderiam ser muito felizes os três

Ficaram animados quando a filha lhes disse que os antigos patrões lhe prometeram que arranjavam um emprego para o Carlos. Regozijaram-se por haver pessoas tão boas

Passaram a viver em função da filha e do neto. Queriam aproveitar a estarem com eles o máximo de tem possível. Sabiam que quando fossem para Lisboa, raramente os veriam

Estava a começar uma época em que os pais só conviviam com os filhos, enquanto não eram autónomos, depois mal os viam, porque iam para as grandes cidades, ou para o estrangeiro

O fim da segunda guerra mundial veio impor um novo ritmo, com a Europa destruída, foi preciso muita mão-de-obra, para a reconstruir. Por isso é que os países fechavam os olhos à emigração clandestina, às desumanas condições em que os portugueses trabalhavam e viviam, nos países para onde fugiam, a salto

Portugal ficou sem a sua juventude, os que não estavam na guerra, estavam no estrangeiro Mas, os governantes, também nada faziam para estancar essa sangria, porque as divisas, canalizadas para o país, eram preciosas para continuarem a alimentar a guerra em Angola, na Guiné e em Moçambique

 

Em Angola, nalgumas cidades, a euforia continuava, a grande quantidade de jovens europeus, fazia com que os negócios florissem, que a vida social ganhasse um novo brilho, os grandes eventos continuavam de-vento-em-popa, como acontecia com o grande prémio de automobilismo: ” as seis horas de Nova Lisboa”

A Bárbara nuca mais pensou em ir para a Metrópole. Quase todos os dias, ela e o Firmino eram convidados para festas, onde se exibia a bela vida de quem não lhe falta nada, nem tem mais nada para fazer, onde o clima convida ao prazer

 

Continuavam a viver: “Naquele ingano d` alma ledo e cego 

                                          Que a fortuna não deixa durar muito….” (1,2)

Em Lisboa, O general António de Spínola, publica o seu livro

: “ Portugal E O Futuro”, onde expõe as suas ideias para a solução da guerra, nas colónias, dando a entender que tínhamos de procurar outras opções.

 

 

     (1) Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, canto III, estância 120

(2) Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, Acto primeiro, Cena 1

Continua.

 

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publicado às 07:56

Amor & guerra (19)

por cheia, em 03.05.21

Amor & guerra (19)

O Firmino convenceu a Bárbara e a Sara a ficarem em Luanda. Agora, a família era maior: tinham os pais dele e o irmão

Em Luanda reinava a tranquilidade, podiam disfrutar da bonita cidade, todos estavam felizes: o Firmino, a Bárbara e a Sara por terem ganho uma família alargada, os pais dele por terem uma nora e uma neta, o irmão por ter uma cunhada e uma sobrinha

O Firmino estava a viver um grande sonho, por estar na sua cidade, acompanhado da mulher que o encantou. Queria que ela e a filha conhecessem a bonita cidade de Lunda

Levou-as à ilha do Mussulo: um paraíso, onde se podem passar agradáveis dias

Aos cinemas ao ar livre, onde estamos com um olho no ecrã e outro na marginal

Militares, sempre, a chegarem e a partirem para a guerra, e que no pouco tempo, que ficavam, procuravam o Bairro Operário, o correspondente ao Bairro Alto, em Lisboa

A cidade vivia na euforia e alegria, e quem não soubesse, não diria que havia guerra!

 

A Miquelina, depois de dar as boas notícias ao Carlos, disse-lhe que o melhor seria voltar para a casa dos pais, enquanto ele não tivesse alta, com o que ele concordou

Mas, antes de se despedirem, ainda, falaram do futuro, que dependia do emprego que lhe arranjassem, para puderem alugar uma casa ou parte de casa, onde pudessem viver os três

O Carlos disse-lhe que estava ansioso pela prótese, para que pudesse ter alta, quanto antes, porque já não conseguia viver sem ela e o Miguel

Ela, também, lhe disse que gostava de ficar junto dele, mas que tinham de ter muita força, para suportarem a separação, por mais uns tempos, até ele sair do hospital

Agarrou-se ao filho, apertou-o e beijou-o, como se não o quisesse largar. A Miquelina abraçou-os, beijou-os até conseguir separá-los 

Foi uma despedida muito emocionante, até o Miguel não se queria separar do pai, mas o enfermeiro disse-lhes que tinha de sair, já tinham ultrapassado, em muito, o tempo da visita

A Miquelina pegou no filho ao colo e saiu, apanhou um táxi para Santa Apolónia, onde o comboio já os esperava, para voltarem a casa

A Miquelina ia mais confiante, tinha tudo corrido muito bem, melhor do que esperava, apesar da amputação da perna do Carlos, tudo apontava para que pudesse andar e governar a vida

Não sendo as melhores notícias, eram reconfortantes para tranquilizar os pais, quanto ao futuro dos três. Iam ficar tristes por verem a filha e o neto saírem de casa, quando Carlos tivesse alta. Mas a vida é assim, feita de encontros e desencontros. E, já se sabe que os filhos, um dia deixam o ninho, para construírem o seu próprio ninho, dando continuação à família pelos séculos fora.

 

Continua.   

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publicado às 07:53


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