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Mazelas da guerra
Continuação
A falta de Oficiais Subalternos
O Capitão já tinha mais de trinta anos, e cumprido o Serviço Militar, como Alferes. Foi outra vez chamado, graduado no posto de Capitão, para comandar a Companhia
Com quase dez anos de guerra, o país estava exaurido, tanto de recursos financeiros, como humanos
A falta de Alferes era de tal maneira que, no fim da minha recruta, nos pediram, por votação secreta, que indicássemos três nomes de camaradas, que considerássemos aptos para transitarem para o curso de Oficiais Milicianos
Para completar a Companhia faltavam dez ou doze elementos, um deles o Furriel de Transmissões, porque o que era para ir connosco teve, poucos dias antes de partirmos, um acidente de carro.
Num belo dia, o nosso Capitão recebeu uma mensagem, dizendo que os elementos em falta tinham chegado ao Batalhão, para os irem buscar
Ficou tão contente, que começou a pensar na receção, que lhes iria proporcionar
Decidiu que se iria apresentar como condutor velhinho, por, infelizmente, haver muitos condutores, devido aos acidentes, em que se viam envolvidos, terem de ficar anos e anos retidos na colónia onde já tinham acabado a comissão, até verem os processos resolvidos
Assim, ordenou que tirassem os galões e as divisas, para uma receção espetacular
Com uma cajadada matámos dois coelhos: fomos no sábado, para aproveitar a cessão de cinema e trazer os nossos novos camaradas
Uma receção ao domingo, num país tão católico, nada melhor que uma missa, no refeitório
Como o Furriel Vagomestre, tinha andado no Seminário, faria de Padre, diria poucas palavas, como se estivesse a iniciar a missa, e de seguida com o autotanque, com que íamos buscar água ao rio, fariam o batismo
Mas, como o que sobrava em imaginação, faltava em responsabilidade, decidiram confessar e gravar as confissões dos colegas, coisa que não caiu bem a alguns
Mas, com o batismo, as boas-vindas e o almoço regado com vinho, parecia tudo ter corrido muito bem
Um dos pelotões esteve, durante os nove meses, destacado na fronteira entre Angola e o Congo
Um dia em que fizeram uma patrulha, um soldado deixou a arma cair num rio, o que fez com que ficasse encravada
O soldado, depois do almoço, contra tudo o que lhes tínhamos dito, centenas de vezes, no que diz respeito ao meu pelotão, desencravou a arma na caserna e sem que se tenha preocupado em manter o cano para cima. Sempre dissemos que as armas só se desencravavam ao ar livre e com o cano para cima, porque a qualquer momento a bala poderia ser percutida.
Continua
Mazelas da guerra
Continuação
A chegada
Chegados ao porto de Lunada, entrámos num comboio que nos levou para o Grafanil, onde se localizava o quartel que nos acolheu até seguirmos para a nossa base
Depressa percebemos porque nos tinham dado uma rede mosquiteiro, os insetos pareciam enxames à nossa volta
No dia seguinte fui aos Correios, para me inteirar de como funcionava o Serviço Postal Militar (SPM) , que consistia na atribuição de um número, no nosso caso, à nossa Companhia, por se tratar duma Companhia independente, o que quer dizer que não fazíamos parte de nenhum Batalhão.
Bastava aos Correios saberem para que localidade tinham de enviar o SPM da Unidade com o número que lhe tinha sido atribuído
O Correio era muito importante para o moral das tropas, sem correio ficávamos nervosos, preocupados, desmoralizados
Tão importante que criaram o aerograma militar, um impresso carta, grátis, tanto o impresso como os portes
Ao fim de poucos dias seguimos para o nosso destino: Norte de Angola, junto à fronteira, perto de Maquela do Zombo
Foi um passeio de dois dias, dormimos no primeiro dia, na Base Aérea do Negage
No dia seguinte fomos recebidos com euforia, pelos camaradas que há muito nos esperavam, para quanto antes chegarem às suas terras e abraçarem os familiares.
No aquartelamento da Fazenda Costa, um acampamento construído, a seguir ao início da guerra, com madeira e chapas de zinco, sem qualquer povoação, por perto
E, a receção foi muito original, nas portas, entre abertas, tinham colocado alguidares de plástico, cheios de água, assim que empurrávamos as portas, ficávamos com o alguidar enfiado na cabeça e muito fresquinhos
Esta receção foi o ponto de partida, para que dali em diante, cada um refinasse as partidas a pregar
A imaginação atingiu tamanha proporção, que o Capitão teve de ordenar que o primeiro-cabo, que estava incumbido de desligar o gerador que iluminava o acampamento, dormisse numa camarata só para ele, porque todos os dias levava uma grande banhada, dormindo todo molhado, sem querer dar o braço a torcer, jurando que não estava molhado
Aos sábados, por escala, íamos a Maquela do Zombo, ao cinema. Quando chegou a minha vez, já sabia que a cama mudaria de lugar, e não me enganei, lá estava nas alturas, atada ao teto
Era uma Companhia de Cavalaria, formada no Regimento de Cavalaria nº7, em Lisboa. Eramos todos milicianos, com exceção de dois Sargentos, cujas mulheres, mais tarde, também se lhes juntaram, passando a viver no acampamento.
Continua
As mazelas da guerra
Fui desafiado, pela amiga Alice Alfazema, para partilhar, o que chamo de mazelas da guerra
Ainda que seja muito penoso, mesmo depois de meio século, das mazelas da guerra falar! Vou tentar, convosco partilhar, as peripécias, de que, ainda, me consiga recordar.
As mazelas da guerra será uma rubrica, que vou tentar publicar à sexta-feira
A Partida
Portugal desaguou em Lisboa, no cais da Rocha de Conde de Óbidos, o sol não raiou, a lua perdeu o brilho e a beleza, tudo estava coberto de tristeza
O monstro dormiu no cais, ao contrário dos de mais, que não dormiram em nenhum lado, tudo ficou acordado, à espera da partida, do último abraço, do último beijo, do último ai
Pais, mães, esposas, irmãs, namoradas, tias, tios, amigas, amigos, unidos no último adeus, para alguns, com a certeza e na incerteza de quem eram os que, nunca mais, voltariam aos cais
As mães apertavam os filhos, como que querendo escondê-los, novamente, no seu ventre
O monstro urrou, a avisar, para que desatassem as amarras e os militares entrassem para o seu interior, a maré subiu devido às lágrimas derramadas
As mães assustaram-se, abriram os braços, e os seus filhos correram para o barco
Desatadas todas as amarraras: as humanas e as materiais fizemo-nos ao mar
Perdemos o Tejo, deixámos para trás a formosa, bela e fresca Sintra
Entrámos no Oceano Atlântico
Passadas vinte e quatro horas entrávamos no porto do Funchal, para, também, da Pérola do Atlântico, os seus filhos, levar
Só permitiram que nos ausentasse-mos por quatro horas, enquanto acabavam de saciar o monstro
Só deu para pouco apreciar, daquele lindo jardim, no meio do mar, plantado
Depois de muito lotado, os soldados bem se queixavam, os que tinham as camas colocadas junto às chaminés, onde era impossível dormir, devido ao calor, voltámos ao mar
O paquete Vera Cruz tinha sido adaptado para que, a maior quantidade de carne para canhão, pudesse levar
De novo no mar, foi só acelerar, numa feroz competição com a NASA, para ver quem chegaria primeiro, se nós a Lunda, se os astronautas à lua para aterrar
Infelizmente, mais uma vez, perdemos.
José Silva Costa
continua
As flores
Como uma rosa perfumada
É a minha namorada
Os cabelos são uma brisa arejada
No meu corpo derramada
Os olhos são dois botões de rosa encantada
A boca, uma romã escarchada
Onde a minha fica atracada
As suas mãos são como uma guitarra
Que, quando dedilhada
Produz uma melodia
Que me incendeia todo o dia.
José Silva Costa
As Mulheres!
As mulheres estão a assumir cargos muito importantes, o que é natural, por estarem em maioria, e nalguns países serem mais qualificadas
Três mulheres ocupam, atualmente, cargos importantes, que podem ajudar o Mundo, nos difíceis tempos que nos esperam
Kristalina Gueorguieva, Presidente do Fundo Mundial Internacional, Christine Lagarde, Presidente do Banco Central Europeu e Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia. Parecem estar de acordo quanto às políticas a seguir, para que o Mundo tente evitar uma catástrofe, quase certa
Defendem uma mudança no setor da energia, substituindo a energia de origem fóssil e nuclear por energia renovável
Também querem um forte reforço no digital, o que pode vir a ser muito útil, em tempo de pandemia, para que a sociedade não pare e se possa cumprir o afastamento físico
Acho que já ninguém dúvida que as alterações climáticas vieram para ficar, causando grandes catástrofes em muitos pontos do globo
O que fará com que tenhamos de modificar quase tudo: indústria, comércio, consumo, horários, transportes, etc.
Todas as mudanças se confrontam com a inércia, ou ainda pior, com a recusa em mudar
Parece que todos estão de acordo que esta pandemia só se vence com solidariedade
Mas, quando vemos o que se passa com a reabertura das fronteiras, na União Europeia, mais parece uma desunião
Não estão a dar mostras dessa solidariedade, que dizem ser tão necessária, ainda, por cima, os critérios, para a discriminação deste ou daquele, são baseados em resultados fraudulentos.
Se fazem isto para tentarem ficar com os poucos ossos, que restaram
do turismo, o que farão para ficarem com a futura carne!
Estamos endividados até ao último cabelo, temos o país parado, quando regressarem de férias, no privado, ficará quase tudo desempregado, como vamos dar conta do recado!
Ansiamos pela vinda do dinheiro da Europa, para ver se o barco não vai ao fundo
Mas, quem tem a chave do cofre, não o quer entregar, sem forte controlo
E, têm toda a razão, porque tem de ser aplicado naquilo, que julgam ser a nossa salvação
Para além de que se pode perder nos bolsos da corrupção, como todos sabemos, e para os que já se tinham esquecido, saiu um relatório, lembrando que nos últimos dez anos, as fraudes em subsídios europeus atingiu 2,3 mil milhões de euros, o dobro do que vamos enterrar na TAP
Minhas Senhoras! Deem, aos que sempre Governaram o mundo, uma grande lição, mostrando que nunca fizeram nada de jeito
Quem conseguir levar o vírus de vencido e equilibrar o mundo, merece todo nosso respeito
Estamos consciente do que aí vêm, mas estou certo de que as mulheres lhe conseguirão dar um jeito
Só elas sabem como nos criaram, com o seu peito
Todos temos o dever de colocar todo o nosso saber na construção de um mundo melhor, para todos!
Se há coisa que este vírus nos ensinou, é que somos todos vulneráveis, mesmo que tenhamos redomas de ouro
E que ninguém cá fica, nem, nenhum tesouro, leva
O melhor tesouro será ver um Mundo Melhor.
José Silva Costa
Agosto!
Este ano ficaste sem rosto
Ninguém te veio visitar
Não levantam os aviões
Nem os barcos podem navegar
Que mal-estar!
Cada um fechado no seu lugar
Sem ter contatos
Nem querer contatar
Não vá a peste, o contaminar
Não há abraços, nem beijos
Nem sorrisos, nem desejos
Está tudo parado e triste
Sem festejos, nem romarias
Que estranhos dias!
Mesmo com todos os condicionamentos
Não deixas de ser o preferido
Mais que não seja
Pelo descanso, o sol, o mar e a areia
José Silva Costa
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