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Antes
Em Abril, a liberdade floriu
Em cada espingarda um cravo vermelho
Militares e povo nas ruas
Para festejarem a queda da ditadura
Que nos governou com mão dura
Com uma feroz censura
E uma assassina Policia Internacional de Defesa do Estado
Coadjuvada por uma rede de informadores
Que nos obrigava, de todos, a desconfiar
Fazendo com que não pudéssemos abrir a boca
Tudo era censurado, cortado, pelo lápis azul
Ninguém podia publicar, representar, fosse o que fosse, sem o exame prévio
Às mulheres estavam vedadas algumas profissões
Noutras, não podiam casar
Não podiam abrir conta no Banco, nem ausentar-se para o estrangeiro, sem autorização do marido
Não tinham direito a voto!
Só tínhamos estudos superiores em três cidades (Lisboa, Coimbra e Porto)
Tínhamos trinta ou quarenta por cento de analfabetos
A guerra, em três frentes ( Guiné, Angola e Moçambique), para além dos mortos e estropiados, era um sugadouro do erário público
Em 1974, tínhamos uma grande parte do país sem água canalizada, sem saneamento, por eletrificar
Não havia autoestradas, as estradas, só de duas faixas, no tempo das férias, as filas eram intermináveis.
O serviço telefónico era manual, concessionado a uma empresa inglesa, telefones de Lisboa e Porto (TLP)
O resto do país era servido pelos CTT
É necessário que os mais jovens se informem, para poderem comparar, o antes e o depois.
Profissões femininas, cujo casamento das profissionais era proibido ou condicionado: enfermeiras, telefonistas, professoras, assistentes de bordo.
«O casamento das professoras não poderá realizar-se sem autorização do Ministro da Educação Nacional, que só deverá concedê-la nos termos seguintes:
1.° Ter o pretendente bom comportamento moral e civil;
2.° - Ter o pretendente vencimentos ou rendimentos, documentalmente comprovados, em harmonia com os vencimentos da professora.»
(Art. 9: do dec. n.• 27:279, de 24-11-936)
As interessadas devem requerer a Sua Excelência o Ministro com fundamento no artigo citado, e juntar ao respetivo requerimento documentos comprovativos
da idoneidade moral e civil, bem como dos vencimentos ou rendimentos do seu noivo.
Os processos respeitantes a pedidos de autorização para casamento de professoras de ensino primário devem ser acompanhados de parecer dos directores dos distritos escolares.
Também é condição indispensável ao deferimento que os pretendentes comprovem a data desde a qual se encontram na situação económica que torna possível a autorização do casamento, bem como a estabilidade que a mesma pode oferecer.
(Da circ. n.• 30-L. 2, de 7-4-937)
A Chuva
São correntes de ouro a caírem do céu
Neste Abril chuvoso
Tão limpas como o amoroso
Quando as vimos contra os raios solares
São vida para plantas e animais
A Natureza está agradecida
Por tanta quantidade de água
Não posso ir ver se o rio vai alteroso
Mas, bem a vejo
Da minha janela
Quando a chuva passa
A espreguiçar-se, a sorrir, a esfregar os olhos
A beijar o vento de tanto contentamento
Abraçada ao sol, como se estivessem a combinar
Tudo fazerem germinar
Para todos alimentar
É na Primavera
Que os cereais costumam namorar
E, esta chuva, agora mais limpa, a todos vem abençoar
Num tempo em que só à janela podemos assomar
Devemos estar gratos por podermos continuar a ver
A chuva, o vento, o sol, a lua, todos juntos, na rua.
José Silva Costa
O regresso às aulas
Hoje, alguns alunos voltaram às aulas
Mas, desta vez, com as salas de aula fechadas
O confinamento fez dar um salto no andamento
Todos receamos mandar as nossas crianças para a sala de aula
Todos tememos pela sua e nossa saúde
Mas há sempre quem ponha objeções
E do que mais falam são das desigualdades
Como se neste país nunca tivesse havido desigualdades
Como se só houvesse desigualdades na escola
No resto, são só igualdades
Todos temos boas casas, bons carros, bons empregos
Todos podemos escolher bons colégios, de onde saem a falar francês, alemão, inglês
É o que nos vendem os políticos, defensores do direito de escolha
Só não nos conseguem dizer, como o fazer, nos Concelhos do interior, onde a única escolha, que temos, é o ensino público
Foi preciso o Covid,19 forçar o ensino a distância, para todos notarem que havia desigualdades
Ainda bem que conseguiram concluir que há desigualdades, já que nas salas de aulas nunca ninguém tinha dado por elas!
As desigualdades começam, ainda, antes do nascimento
Depois, uns ficam com amas ou avós, sem interação com outras crianças
Enquanto outros vão para creches ou jardins-de-infância com todas as condições
Não façam das desigualdades um cavalo de batalha, para não fazerem nada
Aproveitem, este salto forçado, para tentarem reduzi-las.
José Silva Costa
Bela
Bela é a lua
Que ilumina a rua
Onde nasce e fica nua
Bela é a vizinha
Que me prende
Sempre que vem à janela
Mas nunca falei com ela
Na esperança de que um dia
Ela adivinhe o quanto gosto dela.
Bela é a que encontra uma companhia
Com quem partilha a tristeza e a alegria
Cuja felicidade brilha mais que a luz do dia.
José Silva Costa
Vaidades
O que é que levou o Governo a querer destruir um Serviço de referência, do Hospital Curry Cabral, querendo transferi-lo para o Hospital de Santa Marta, com o pretexto do Covi19?
Um disparate comparável ao que pretenderam fazer com a transferência do Infarmed, para o Porto, cujo recuo, só foi possível devido à resistência de trabalhadores e dirigentes
Sou a favor da descentralização, mas não à custa da destruição, para satisfazer as vaidades dos políticos
O que tem sido feito, para enfrentar o Covid19, é criar Hospitais de Campanha, ou utilizar instalações disponíveis, nunca destruindo o que levou tantos anos a construir
Mas, infelizmente, continuamos a ter políticos, que não se importam de destruir o que funciona, e bem, para imporem as suas vaidades.
José Silva Costa
O sonho
A esperança não acabou
O Sol continua, todos os dias, a nascer
E, nós cá estaremos para o ver
Agora, não precisamos correr
O Mundo está unido
Como nunca esteve
Devido a um mau-olhado
Ainda que parado
É aqui que temos o passado
No longo corredor suspenso do tempo
Onde têm apartamento a Lua e o seu encantamento
Aí vivem também o Sol e o Vento
Quando o Sol beija a Lua nasce a madrugada
E, de um momento para o outro, de rajada
De repente o sonho ficou adiado
Mas não morreu nem morrerá
Porque o sonho comanda a vida
A Lua está muito sentida
Porque não pode ver os amantes, na rua, florida
Espera que a proibição não seja comprida
Para não ver a vida, por muito tempo, interrompida
Vamos no vento, de fugida
Procurar o outro lado da avenida
Num olhar da janela comprida
O mais longe que nos é permitido viajar
Mais de cinco não podemos estar
Não vá a multidão acordar a avenida
Da hibernação fora de tempo
E pôr a saúde de todos em perigo
Fazendo com que seja, ainda, maior o castigo
Mesmo com a Primavera enclausurada
Dormirei todas as noites sonhando contigo.
José Silva Costa
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