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A paragem
O Mundo parou, para pensar
Há qualquer coisa de muito estranho, no ar
Este ano veio-nos acordar
Do nosso individualismo sonolento
Da nossa ambição desmesurada
De tanta coisa, ao longo dos anos, acumulada
De um frenesim de vida enviesada
Quisemos ir além da estrada
Montámos uma pirâmide desequilibrada
De cima comandada
Por quem só sabe duas palavras: mais lucro
É bom que admitam, que este modelo acabou
Foi um sonho, que não resultou
Foi a nossa inconsciência e arrogância, que o matou
Vamos, certamente, aprender a lição
Vamos tentar reparar a avaria
Mas não pensem voltar a uma harmonia, que não existia
Temos, com humildade, de compreender
Que fazemos parte de um todo
O Cosmos!
Que não o podemos sacrificar em nosso proveito
Fomos longe demais
Quando a paralisação acabar
Vamos recomeçar, mas de um outro patamar
Pondo em prática, o muito, que esta paralisação nos veio ensinar
Aproveitando a informática, para outros voos dar
Para não mais, os recursos desperdiçar.
José Silva Costa
24/03/20
O duro futuro
Antes, não tínhamos tempo para nada
Agora, só temos tempo, não temos mais nada
Não nos podemos beijar, abraçar, reunir
Melhores tempos estão para vir
Devemos ficar em casa
Só assim podemos ajudar
A que esta onda negra possa passar
Vemos os amigos, os filhos e os netos, pelo whatsApp
Cantamos-lhes os parabéns
Beijamo-nos e abraçamo-nos
Mas, não sentimos calor nem cheiro
Estamos parados, no nosso canteiro
Não queremos parceiro
Queremos afastamento, por inteiro
Nunca o Mundo esteve tão parado
Nunca, como hoje, o afastamento foi apreciado
Temos de ter todo o cuidado
Para que em breve
Possamos voltar a viver, como no passado
Mas, preparemo-nos!
Porque o futuro vai ser duro.
José Silva Costa
Miguel Torga
Coimbra,6 de Abril de 1943
VOZ
Era o céu que sorria nos seus olhos.
Eram junquilhos trémulos aos olhos,
As flores do rosto que eu beijava.
Fresca e gratuita como um hino à lua,
Nua,
Era um mundo de paz que se entregava.
Oh! Perfume da Vida! - gritei eu.
Oh! Seara de trigo por abrir,
Quem te fez todo o pão da minha fome?
Mas os seus braços, longos e contentes,
Só responderam, quentes:
- Come
Primavera, 20/03/20
Chegou a Primavera
Ficou em casa
Sem campos floridos, nem perfumes
Mas, solidária!
Trouxe-nos água
Para podermos continuar a lavar as mãos
A lembrar-nos que os tempos mudaram
Que estamos todos no mesmo barco
Que nunca estivemos tão ligados
E, o que nos liga não escolhe entre ricos e pobres
Que não se justifica, uns terem tudo e os outros só fome
Que chegou a hora de respeitar a Natureza
Não a destruindo com a força rude da ganancia
Numa exploração desenfreada, matando tudo, não deixando nada
Numa ambição desmesurada, que nunca está saciada
Aproveitamos este interregno, para mudar de rumo
Construir um novo futuro
Aproveitando os novos recursos
Para aprender e trabalhar
A partir de outros locais
Onde a presença não seja vital
Para os transportes não sobrecarregar
Um novo estilo de vida temos de inventar.
José Silva Costa
Sexta-feira,13 de março de 2020
Para tudo! Estamos em alerta
Nunca o Mundo tinha assistido a uma coisa assim
Infelizmente, uma grande lição, para os que, sem saberem nada do novo vírus
Se apressaram a dizer que este vírus era menos letal que o vírus da gripe
O Mundo está fechado!
Ninguém quer nada com o vizinho do lado
Está tudo virado do avesso
Tanto que gostamos de receber e fazer visitas
Agora, ninguém é bem-vindo
Está tudo assustado
Cada um no seu canto, resguardado
Nem me deixam ir ao supermercado
Os filhos encarregaram-se do recado
Porque o vírus gosta muito dos idosos
Têm mais portas de entrada, para o hóspede indesejado
Assim, temos de ter o máximo cuidado
Não correr para as grandes superfícies
A colecionar rolos de papel higiénico
Para que não falte nada ao novo vírus
Porque o que ele prefere é papel higiénico
E, isso não nos vai salvar
Portando, não devemos de continuar
A lutar por um rolo de papel
É melhor ficarmos em casa a descansar
Amanhã, os supermercados vão, outra vez, atestar as prateleiras.
José Silva Costa
Mulher
Mulher! Enigma difícil de ler
Deusa do meu saber
O teu ventre me fez nascer
Magia do teu poder
Como te agradecer!
Tu és fogo, terra, água
Sol a amanhecer
Rio a correr
Colo de saber
A amamentar a vida
Perfume que me inebria os sentidos
Lume que me queima as entranhas
Companheira
Flor dos nossos frutos
Porto de abrigo
Onde ancoramos o tempo
Tu és o brilho do sol
Suave e doce
Como a Primavera em flor
Para todas as mulheres
Todas as rosas.
José Silva Costa
Terra Materna
No amanhecer de um dia
Quando sol ainda dormia
Tanta gente morria
Por tanta tirania
Que a ambição incendeia
A guerra é a face feia
Que nos rouba o Sol
Que nos rouba a vida
Que nos faz migrar
Quem pode não gritar!
Quando, aos filhos, não sabemos explicar
Por que razão a nossa terra temos de abandonar
Fugir sem saber para onde
Porque ninguém nos quer
A não ser para moeda de troca
Põem-nos em campos de concentração
À espera da ocasião
De nos atirarem contra outra nação
Que não aceite a reivindicação
Homens, mulheres e crianças são armas de arremesso
Dos senhores que se julgam donos dos Povos
Os ditadores de que muitos gostam!
Porque lhes prometem tudo, sem faltar o orgulho
Como se isso fosse possível!
Foi e será, sempre, assim que os ditadores conquistam o voto
Para difundirem o ódio e lhes estimular o orgulho
E, de seguida implantam uma ditadura.
José Silva Costa
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