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Maio

por cheia, em 29.04.19

Abril

Abril, o mês mais florido

O mês da liberdade

O mês de águas mil

Abril, trouxeste uma madrugada perfumada

Cheia de dúvidas e sonhos

Uma promessa de mudança, na cor de um cravo

Uma promessa de amor do tamanho do coração

Uma revolução que não queria que o sangue manchasse a sua ação

Abril, 45 anos a sonhar com cravos a florir

Nos canos das espingardas, como se fossem balas perfumadas

As ruas, primeiro, ficaram caladas

Depois, rebentaram de alegria

Nunca Lisboa tinha assistido a tanta magia

Em todas as ruas, a liberdade, corria

Para adultos, jovens e crianças, sorria

Foi o mais longo dia

À espera de sabermos para onde o futuro iria

José Silva Costa

 

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publicado às 22:31

Nosso drama

por cheia, em 20.04.19

Nosso drama

 

Por todo o lado

Em todos os Continentes

Avalanchas de gentes

Fogem das guerras e da fome

Nada as detêm

Nem fronteiras, nem barreiras

Nações são asneiras

A fome não reconhece bandeiras

Os políticos não têm fome

Ameaçam os emigrantes de morte

Não querem saber da sua sorte

Quem tem poder julga-se forte

Recorre a tudo, ameaça com o corte

De fronteiras, de negócios, de ajudas

Mas, as mães pelos filhos fazem tudo!

Viram o Mundo, se preciso for

Sem medo, nem terror

Porque eles são o seu maior valor

Perdê-los é a sua maior dor.

 

 

José Silva Costa

 

 

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publicado às 22:42

ovos de oiro!

por cheia, em 11.04.19

A galinha dos ovos de oiro

 

A Câmara Municipal de Sintra tem um espaço de apoio aos munícipes

O Espaço do Cidadão, onde se podem tratar muitos assuntos

Um espaço bem organizado e eficiente, um espaço diferente

De vez em quando, uma funcionária vai à sala de espera e dirige-se aos presentes

Em português e inglês perguntando-lhes se precisam de ajuda, de impressos, etc.

Com estas triagens despacha logo metade da clientela

“ falta o atestado de residência, o inicio de atividade, tem de ir ao serviço de cartografia, para saber para que está licenciado o espaço”

Com o alojamento local, como galinha dos ovos de oiro, não falta quem queira, tudo alugar

Para onde quer que nos viremos, nas cidades ou nas pequenas localidades

Só vemos placas com as letras A.L.

Todos os que querem alugar espaços, sejam construídos em madeira, alvenaria ou cimento armado, os mesmos, têm de estar licenciados para habitação

Assim, quem quer transformar os currais, os palheiros, os galinheiros, em galinha de ovos de oiro, primeiro têm de os licenciar para habitação, como é natural, num país europeu, no século XXI .

Com serviços inovadores, bem organizados, eficientes, pensados por pessoas, para pessoas , até apetece pagar impostos.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

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publicado às 22:26

O encanto das cidades

por cheia, em 05.04.19

O encanto das Cidades

Quando os turistas desaguam nas praças das nossas cidades

E ficam de boca aberta com o encanto dos nossos monumentos

Não sabem nem sonham, o que se esconde, por de trás das bonitas fachadas

Muitos idosos, na solidão de quatro paredes, sustentam, com os seus corpos, o desmoronamento das cidades

Já não lhes bastavam as dores, o peso dos anos, o tempo a escoar-se por entre os dedos

Ainda têm de viver com o medo, a incerteza de não saberem o que lhes pode acontecer

Assediados por quem lhes quer roubar o lugar onde nasceram ou onde há muito vivem

Não conseguem, nem nos últimos anos de vida, um momento de paz

Mesmo que a lei os proteja, os fundos de investimento não têm sensibilidade nem rosto

E, quando não aceitam as miseráveis condições em que os querem despejar

Ou quando não há dinheiro que lhes pague o que sente por o seu lugar

Porque saírem de onde têm raízes e alguém que lhes dê atenção

É como condená-los a uma morte antecipada

Então, os novos donos das cidades, recorrem a métodos criminosos

Mandando incendiá-las

Triste tempo deste deslumbramento!

Em que para o vil metal, uma parte da peste grisalha é um impedimento

Para que o resto da peste grisalha calcorreie todo o mundo, a todo o momento

Há qualquer coisa de errado, quando os cabelos prateados não são acarinhados

 

José Silva Costa

 

 

 

 

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publicado às 19:05

Mais Lágrimas

por cheia, em 02.04.19

Um Texto Que Tem Mais LÀGRIMAS Do Que PALAVRAS !!!


         

 Texto Absolutamente Imperdível. Do Mural de Maria de Lourdes dos Anjos

 




 

Quando os meninos  me pediam "papel macio pró cu e roupa boa prá gente"…
Um dos textos que mais me custou a  escrever e por isso tem mais
lágrimas do que palavras.

Estávamos ainda no século XX, no longínquo ano de 1968, quando a vida
me deu oportunidade de cumprir um dos meus sonhos: ser professora. Dei
comigo numa escola masculina, ali muito pertinho do rio Douro, na
primeira freguesia de Penafiel, no lugar de Rio Mau.
Era tão longe, da minha rua do Bonfim, não podia vir para casa no
final do dia, não tinha a minha gente, e eu era uma menina da cidade
com algum mimo, muitas rosas na alma, e tinha apenas 18 anos.

Nada me fazia pensar que tanta esperança e tanta alegria me trariam
tanta vida e tantas lágrimas.
 Os meninos afinal eram homens com calos nas mãos, pés descalços e um
pedaço de broa no bolso das calças remendadas.
As meninas eram mulheres de tranças feitas ao domingo de manhã antes
da missa, de saias de cotim, braços cansados de dar colo aos irmãos
mais novos, e de rodilha na cabeça para aguentar o peso dos alguidares
de roupa para lavar no rio ou dos molhos de erva para alimentar o
gado.

As mães eram mulheres sobretudo boas parideiras, gente que trabalhava
de sol a sol e esperava a sorte de alguém levar uma das suas cachopas
para a cidade, “servir” para casa de gente de posses.
Seria menos uma malga de caldo para encher e uns tostões que chegavam
pelo correio, no final de cada mês.

Os homens eram mineiros no Pejão, traziam horas de sono por cumprir,
serviam-se da mulher pela madrugada, mesmo que fosse no aido das vacas
enquanto os filhos dormiam (quatro em cada enxerga), cultivavam as
leiras que tinham ao redor da casa, ou perto do rio e nos dias de
invernia, entre um jogo de sueca e duas malgas de vinho que na venda
fiavam até receberem a féria, conseguiam dar ao seu dia mais que as 24
horas que realmente ele tinha. Filhos, eram coisas de mães e quando
corriam pró torto era o cinto das calças do pai que “inducava” … e a
mãe também “provava da isca” para não dizer amém com eles…

E os filhos faziam-se gente.
E era uma festa quando começavam a ler as letras gordas dum velho
pedaço de jornal pendurado no prego da cagadeira da casa…o menino já
lia.. ai que ele é tão fino… se deus quiser, vai ser um homem e ter
uma profissão!

Ai como a escola e a professora eram coisas tão importantes!
A escola que ia até aos mais remotos lugares, ao encontro das crianças
que afinal até nem tinham nascido crianças…eram apenas mais braços
para trabalhar, mais futuro para os pais em fim de vida, mais gente
para desbravar os socalcos do Douro, mais vozes para cantar em tempo
de colheitas.
E os meninos ensinaram-me a ser gente, a lutar por eles, a amanhar a
lampreia, a grelhar o sável nas pedras do rio aquecidas pelas brasas,
a rir de pequenas coisas, a sonhar com um país diferente, a saber que
ler e escrever e pensar não é coisa para ricos mas para todos, para
todos.

E por lá vivi e cresci durante três anos e por lá fiz amigos e por lá
semeei algumas flores que trazia na alma inquieta de jovem que julgava
conseguir fazer um mundo menos desigual.
E foi o padre António Augusto Vasconcelos, de Rio Mau, Sebolido,
Penafiel, que me foi casar ao mosteiro de Leça do Balio no ano de 1971
e aí me entregou um envelope com mil oitocentos e três escudos (o meu
ordenado mensal) como prenda de casamento conseguida entre todos os
meus alunos mais as colegas da escola mais as senhoras da Casa do
Outeiro. E foi na igreja de Sebolido que batizou o meu filho, no dia 1
de janeiro de 1973.

E é deste povo que tenho saudades. O povo que lutou sem armas, que
voou sem asas, que escreveu páginas de Portugal sem saber as letras do
seu próprio nome.
Hoje, o povo navega na internet, sabe a marca e os preços dos carros
topo de gama, sabe os nomes de quem nos saqueia a vida e suga o
sangue, mas é neles que vai votando enquanto continua á espera de um
milagre de Fátima, duns trocos que os velhos guardaram, do dia das
eleições para ir passear e comer fora, de saber se o jogador de
futebol se zangou com a gaja que tinha comprado com os seus milhões, e
é claro de ver um filmezito escaldante para aquecer a sua relação que
estava há tempos no congelador.

As escolas fecharam-se, os professores foram quase todos trocados por
gente que vende aulas aqui, ali e acolá, os papás são todos doutores
da mula russa e sabem todas as técnicas de educação mas deseducam os
seus génios, os pequenos /grandes ditadores que até são seus filhinhos
e o país tornou-se um fabuloso manicómio onde os finórios são felizes
e os burros comem palha e esperam pelo dia do abate.

Sabem que mais?!
Ainda vejo as letras enormes escritas no quadro preto da escola
masculina, ao final da tarde de sábado, por moços de doze e treze anos
com estes dois pedidos que me faziam: “Professora vá devagar que a
estrada é ruim, e não se esqueça de trazer na segunda-feira, papel
macio pró cu e roupa boa dos seus sobrinhos prá gente”.
Esta gente foi a gente com quem me fiz gente.

Hoje, não há gente… é tudo transgénico .
O povo adormeceu à sombra do muro da eira que construiu mas os
senhores do mundo, estão acordadinhos e atentos, escarrapachados nos
seus solários “badalhocamente” ricos e extraordinariamente felizes
porque inventaram máquinas e reinventaram novos escravos.
 Dizem que já estamos no século XXI...”



 



 

 

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publicado às 20:43


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