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Flores, flores, para acalmar as tuas dores
Por cada flor que me deste, devo-te mil flores
As flores que cresceram no teu ventre, são gente
Ah, como acaricias a minha mente!
Por cada dia, por cada dor, estou-te grato, eternamente
As nossas flores, todos os dias, são regadas, por nós, ternamente
Por cada beijo, por cada caricia, devo-te todas as flores, que caibam numa semente
Por cada flor que criamos, recebemos um perfume emergente
Todas as flores têm um perfume ardente
Que deveria ser repartido emocionalmente
Um perfume que se vai evaporando, continuamente
As flores, ao acasalarem, podem dar origem a novos jardins, perfumados, profundamente
De algumas cores, todos uns amores, de intensos cheiros, espalhados, difusamente
E, assim foi crescendo o grande jardim universal, sucessivamente
O único jardim, cujas flores podem mudar de canteiro, constantemente.
José Silva Costa
Desespero
Fogem de tudo: da fome, da guerra, das ditaduras, dos abusos
Percorrem um Continente, descalços, rotos, esfomeados
Arriscam a vida para conseguirem concretizar o sonho
Entrarem na mais cobiçada menina: A Europa
Tentam-no por todos os meios: Terra, Mar, Ar
Há poucos dias, cem jovens conseguiram-no
Saltaram a vedação de Ceuta!
A sangrarem de pernas e braços choravam e saltavam de contentes
Como é que há gente, que recuse ajudar esta gente?
A nossa Pátria é onde formos felizes
Seja bem-vindo, quem vier por bem.
José Ilva Costa
O faz e desfaz
O Governo, entalado entre o PC e BE, querendo ver o Orçamento aprovado
Vai ter de desfazer, novamente, o mapa das Freguesias
Quando, o que era necessário, era reduzir, também, o número de Câmaras
Os Partidos, que querem a saída do Euro, da CE, e a não ingerência estrangeira, têm de justificar a sua existência, tentando, nas Autarquias, empregar as suas clientelas
Para ver se um dia conseguem, que tenhamos um paraíso igual ao da Venezuela!
A balança de pagamentos, que durante algum tempo, pouco, conseguimos que estisse equilibrada!
Num ano, mesmo com o mar de turista, o défice, duplicou!
Quando deixarmos de estar na moda, o que vamos fazer?
Já vendemos os dedos e os anéis, só nos resta, ao FMI, voltar
A única vantagem de termos mais Freguesias e Câmaras, será acabar com o desemprego
Porque, normalmente, essas entidades têm funcionários a duplicar ou treplicar
Portanto, fazer e desfazer dá trabalho e cargos, a muitos militantes ávidos de serem Presidentes, seja do que for, porque viver à mesa do Orçamento é um encanto.
José Silva Costa
História
A ideia de ligar Sintra a Colares e posteriormente à Praia das Maçãs surgiu em 1886. Durante vários anos foram feitas sucessivas tentativas para a concretização deste projeto que fracassaram uma a uma.
Só em novembro de 1898 foi dado um passo de gigante, quando a Câmara concedeu a Nunes de Carvalho e Emídio Pinheiro Borges, pelo prazo de 99 anos, a concessão para construir e explorar um caminho de ferro a vapor entre Sintra e a Praia das Maçãs, mais tarde substituída pela tração elétrica.
Em julho de 1900 é constituída a Companhia do Caminho de Ferro de Cintra à Praia das Maçãs que em 1904 passou a denominar-se Companhia Cintra ao Oceano.
Em agosto de 1902, na zona da Estefânia começou a construção desta linha e, em março de 1903 são encomendados à firma americana J. G. Brill Company, 13 elétricos, sendo 7 carros motores e 6 atrelados.
Desde o início, a vida dos elétricos foi sempre atribulada. Em 1914 é constituída a Companhia Sintra-Atlântico que substituiu a anterior empresa que entretanto tinha falido.
A 31 de janeiro de 1930 os elétricos chegam à pitoresca vila das Azenhas do Mar. A linha atingia assim a sua máxima extensão: 14,600 metros.
Os elétricos de Sintra tinham entrado no seu melhor período impulsionados pelo dinamismo do seu administrador, Camilo Farinhas que dirige a Sintra-Atlântico até ao ano da sua morte, em 1946.
A decadência surgirá a partir de finais dos anos 40 com o desenvolvimento dos transportes mecânicos.
A partir de 1953 os elétricos passam a funcionar somente durante o Verão e em 1955 é encerrado o troço Praia das Maçãs e Azenhas do Mar. Em 1958 o mesmo acontece ao troço entre a Vila Velha e a Estação de Sintra, devido ao alargamento da Volta do Duche e do incremento do tráfego automóvel nesta zona de Sintra.
Funcionando unicamente nas épocas estivais entre Sintra (Estação) e a Praia das Maçãs, os elétricos vão adquirir um estatuto muito especial, tornando-se num autêntico ex-libris de Sintra e conhecendo um novo período de ouro. Aos domingos e feriados, era comum ver autênticas avalanches de pessoas à procura de um lugar nos elétricos. Não havia elétricos que chegassem para transportar tanta gente.
Em agosto de 1967, a Sintra-Atlântico é comprada pelo grupo de camionagem Eduardo Jorge. Com esta nova administração o investimento nos elétricos reduz-se ao mínimo da sua sobrevivência esperando pelo fim da sua concessão pois, a exploração há muito tinha deixado de ser rentável. A degradação das infra-estruturas e material circulante tornam-se visíveis, fruto do desinvestimento por parte da empresa concessionária.
Este panorama nada animador prolonga-se até 1974, ano em que os eléctricos funcionam pela última vez até Sintra. Em de julho de 1975 é autorizada a substituição dos elétricos por autocarros.
Apesar de todas as adversidades, a vontade de colocar os elétricos novamente nos carris não acabou e a 15 de maio de 1980, foi oficialmente reiniciada a circulação dos elétricos nesta linha mas, somente entre o Banzão e a Praia.
Entre 1996/97 foi recuperado o troço entre a Ribeira e a Praia das Maçãs e a 30 de outubro de 1997, a Ribeira viu novamente chegarem os eléctricos. A 4 de junho de 2004, precisamente no ano do seu centenário, os elétricos chegam de novo a Sintra, mais propriamente até à zona da Estefânia.
De novo em funcionamento este património sobre carris e muitos anos depois, é com grande alegria que se voltou a ver os carros eléctricos a circular cheios de passageiros.
Chips!
Para onde quer que nos viremos lá estamos, todos, com os chips na mão
Hoje, todos andamos de chip em riste, numa onda de navegação
Com um aparelho do tamanho de uma caixa de fósforos, temos toda a informação
Nos jardins, nos cafés, nos restaurantes, nos comboios, por todo o lado, um silêncio ensurdecedor
Acabaram-se as conversas, as discussões, a troca de opiniões, os dedos substituíram essas funções
Outrora, nos comboios da linha de Sintra, havia grupos de amigos, que viajavam sempre na mesma carruagem
Uns jogavam às cartas, outros discutiam os resultados dos jogos de futebol, falando, também, das agruras da vida
Faziam-se amizades, combinavam-se piqueniques, excursões, emprestavam-se livros
Naqueles bancos corridos, cabia sempre mais um, viajávamos como sardinha em lata
Durante as obras de duplicação da linha assistimos a muitas peripécias
Uma mãe arrancava o filho, da cama, às seis horas, apanhava o comboio em Sintra, para ser entregue à avó, na estação do Cacém
Como não se conseguia chegar à porta, porque os comboios circulavam de portas abertas, a abarrotar, a criança era entregue à avó, pela janela, por quem estivesse junto à janela
Numa viagem, no sentido de Sintra para o Rossio, na estação da Amadora, uma jovem, vendo que não conseguia chegar à porta, baixou a janela e saiu, o contato com o cascalho, foi um pouco violento, porque ela estava no lado contrário ao da plataforma
Também arrisquei um dia, na estação do Rossio, iniciar a viagem, no estribo da porta, apenas agarrado com uma mão, quando na plataforma começaram a procurar melhores posições, quase que me atiravam para a linha, já dentro do túnel
Nunca mais arrisquei, porque poderia ter perdido a vida, para ganhar uns minutos, ainda que me custasse esperar pelo comboio seguinte, pois, eram quatro horas perdidas, nos transportes.
José Silva Costa
Peste grisalha
A mortalidade, da “peste grisalha”, como foram cognominados, no auge da crise, tem vindo a aumentar
No dia mais quente, desta vaga de calor, morreram quase quinhentos!
Aqueles que defendem, que a solução seria uma injeção, atrás da orelha
Talvez não tenham muita razão
A Natureza parece ter encontrado uma solução mais aceitável
Acusados de deverem muitos anos à cova, foram uma almofada preciosa
Para filhos e netos, cujas famílias faliram, tendo, muitos, sido obrigados a voltarem para a casa dos pais
E, aqueles que esperavam uma vida mais folgada, aquando da reforma, viram-se, de férias e viagens, privados
Viram, nalguns casos, voltar a casa mais do que tinham saído
Mas, o que é que os pais não fazem pelos filhos?
Tristes por os filhos terem perdido a casa, o emprego, etc.
Confortados por voltarem a ter a companhia dos filhos e até de netos
As duas faces da moeda.
José Silva Costa
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