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A mendicidade
Todos os dias, na mesma esquina, sentada no chão
Com as pernas recolhidas, na dura e gelada calçada
Chova ou faça frio, enregelada, na mesma posição
Passo, e ela diz bom dia e acena-me com a caixinha com cêntimos
Fico, sempre, tão transtornado, por ver aquela rapariga, naquele estado
Como é que ela aguenta aquela penitência?
Horas e horas, naquela posição, naquele gelado passeio
É estrangeira! De longe, de perto, de onde é que terá vindo?
Cada vez que passo cumprimenta-me, e eu arrepio-me
Por não ser capaz de lhe dar, nem que seja, um cêntimo!
Não quero alimentar aquele modo de vida, mas fico tão revoltado!
Não sei se com ela, se comigo, se com toda a gente, se com o resto do Mundo
Fui obrigado a vê-la, cinco terças-feiras seguidas, não foi bem, porque na de Carnaval, não fui a Lisboa
Hoje, espero que tenha sido a última vez. Pois, desejo que não seja preciso voltar àquela esquina, tão depressa!
Mas, vai ser preciso muito tempo, para me esquecer da cara dela: franzina, o corpo todo coberto, só a face macilenta à vista! Mesmo toda entrapada, não sei, como aguenta!
Sempre que vejo estas pessoas vê-me à ideia uma triste situação, que aconteceu na estação ferroviária de Sintra
Uma senhora desceu do comboio acompanhada de uma menina, que parecia cega
A senhora afastou-se um pouco da gaita, esta estava constantemente aos aís
As pessoas perguntaram-lhe o que tinha, para ter os olhos com ligaduras
A miúda respondeu que tinha baratas nos olhos
Chamaram a polícia, e não as abandonaram enquanto a polícia não chegou
Tiradas as ligaduras verificaram que a menina tinha duas meias cascas de nozes com baratas
A finalidade seria cegá-la, para ser utilizada para a mendicidade
O que o ser humano é capaz de fazer, para viver da mendicidade!
José Silva Costa
Ghouta Oriental (Síria)
Mais um massacre
Feito por quem pelos outros não tem respeito
Tantos homens, mulheres, crianças mortas, ficando sem peito
Os tiranos não sabem o que é o direito!
Aqueles que os elegem não sabem o que vai ser feito
Não se importam de fazer dos mortos o seu leito
Nenhuma guerra, massacre, genocídio, tem jeito
Amar, ajudar, falar e tentar compreender o outro é que é perfeito
As guerras, por muitas convenções que existam, não têm preceito
Cada um comete as maiores atrocidades que pode, não se importando com as regras a que está sujeito
Por que razão a Rússia e os Estados Unidos mandam no mundo inteiro?
No caso da Síria, para além dos dois mencionados, ainda há muito parceiro
Que continua a querer matar um país inteiro (Turquia, Irão …)
Dividam o mundo como quiserem
As pessoas não querem, às vossas mãos, morrerem
Fechem as fábricas que alimentam as guerras
Utilizem os recursos que gastavam nas guerras para alimentar os pobres
Deixem-se de massacres, genocídios, limpezas étnicas
Antes de mandarem canhões e aviões disparar
Interroguem-se se gostariam que fossem os vossos filhos e netos os alvos
As guerras nunca serão solução
O que os povos querem é compreensão, amor e pão.
José Silva Costa
Carnaval
A terça-feira de Carnaval é um dia fora do normal
Não é carne, nem peixe, o Governo decreta tolerância de ponto, os outros fazem o que quiserem!
Não é feriado, mas é quase, como se fosse, não se sabe o que está a funcionar: é à vontade do freguês
Muito ao jeito português: falta de rigor, tolerante com os incumpridores, pouco pontual, só para inglês ver
Um país, em que os incumpridores são aplaudidos, os outros não!
Em que graves crimes de poluição e outros são punidos com meio cêntimo, para a caridade
Aconteça o que acontecer nunca há culpados, algumas leis são para inglês ver
Quem as viola, é premiado, como aconteceu, com os crimes, que mataram o Tejo
Há muitos anos, que alguns se preocupam com a saúde do Rio
O Governo, para os calar, como é hábito, criou uma comissão de acompanhamento
Que teve como resultado: ver a água ter uma classificação de menos boa
Depois dizem que são as mas línguas que dizem mal das constantes comissões!
E, qual foi a medida implementada, para uma melhor classificação da água do Tejo?
Autorizar uma das celuloses a duplicar o volume de poluição para o rio!
O ambiente, ainda não é para levar a sério, cada um faz o que quer, porque as sanções são para fazer rir
O rio, num dia está morto, no outro já está normal!
Nada mais se pode saber, porque está tudo em segredo de justiça
No entanto, vão dizendo que há muitos metros cúbicos de lixo para, da albufeira, retirar
Não dizem é quem vai pagar!
Somos os melhores do Mundo, só podia ser!
José Silva Costa
O Tejo
O Tejo é o príncipe encantado de Lisboa
O seu amor, perfeito!
Banhando-lhe os pés o ano inteiro
Num lisonjeiro e amoroso namoro
Tejo, eras o espelho do país, quando eras feliz!
Mas a ganância, a incompetência, a insensibilidade mataram-te
Não te mataram só a ti, mataram também o país!
Cobriram-no de eucaliptos e puxaram-lhes fogo
Matando plantas, animais e pessoas
Envenenaram-te com o pretexto de criarem riqueza
Mas, ao contrário, provocaram tragédias e miséria!
Morto, fizeram-te o funeral, cobrindo-te com um manto branco!
Tejo, tu és a maior porta de entrada e saída do país!
Quantas fragatas te subiram e desceram carregadas de vida e sonhos?
Tu serás sempre a grande referência para quem sai e entra, pela tua porta
O país já chorou a teus pés, ao longo dos séculos, a partida de marinheiros, militares, aventureiros, pedindo que todos regressassem
Mas, infelizmente, há sempre quem te perca para sempre
Só quem de ti se despediu, carregando a incerteza de não saber, se te voltaria a ver
Pode testemunhar a alegria, que sente, por voltar aos teus braços
Os teus cais estão pejados de lágrimas de despedidas, e de sorrisos de regressos
José Silva Costa
Fevereiro
Fevereiro leva a velha e o cordeiro
Fevereiro quente traz o diabo no ventre
Peço-te que mandes água para a gente
Mas, o suficiente para lavar a corrente
Levar para longe do nosso olhar
Todo o lixo que encaminhamos para os rios
Que desaguam no mar
Que tudo consegue abarcar
Mas, que um dia também pode avariar
Começar, o veneno, a vomitar
Para tudo matar
O Tejo já está a agonizar
Passa os dias e as noites a vomitar
Espuma branca, que mandaram aspirar
Temos de optar!
Não podemos querer, ao mesmo tempo
Sol na eira e chuva no nabal
Alguma coisa está mal!
Quando substituímos o plástico por o papel
Não será melhor apostar no virtual?
Deixando de estar enterrado em papéis
Muito ao nosso gosto e hábito!
Reduzir, reutilizar e reciclar
Se não quisermos, com o Mundo acabar.
José Silva Costa
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