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Pregões

por cheia, em 16.10.16

Lisboa, quanto mais velha, mais rapariga

Nos meados do século passado

Atrasada, sem brilho, nem fachada

Fechada no orgulhosamente só

Eras uma capital sem atração fatal

Nada de genial: carroças, olarias, tabernas e pregões:

Ferro velho -“Quem tem trapos, garrafas ou jornais para vender”? (comprava de tudo)

Vendedora de figos -“Quem quer figos, quem quer almoçar”?

Aguadeiros de Caneças -“Água fresca, água de Caneças” ( percorriam as zonas nobres da cidade, com camionetas carregadas de bilhas de barro, com água de Caneças )

Varina- vendia peixe -“Oh freguesa, venha cá abaixo ver isto!

É sardinha vivinha da costa” (transportava o peixe, numa canastra, sobre uma rodilha, à cabeça

Ardina, vendia jornais -“Século, Diário da Manhã, República, Diário de Lisboa e Diário de Notícias”

Por causa do pregão dos jornais, conta-se a seguinte anedota

Um compadre alentejano, depois de vender a cortiça, resolveu ir a Lisboa, depositar o dinheiro

Apanhou o comboio, quando se apeou no Barreiro, mal saiu, logo ouviu: cerca o da cortiça, ….

Pensando que o queriam roubar, voltou para o comboio. Quando chegou a casa, contou o que lhe tinha acontecido.

As lavadeiras de Caneças com as trouxas à cabeça, todas as semanas entregavam a rouba lavada e recebiam a suja, para irem lavar

“Um lençol, um corpete, uma camisa, que a freguesa deu ao rol”

Com o aparecimento da máquina de lavar roupa, lá se foi a profissão

As lavadeiras ficaram sem o ganha-pão

As senhoras da fidalguia não trabalhavam, salvo raras exceções

Tinham criadas: uma, duas ou mais

Que viviam nas casas dos patrões

De quinze em quinze dias, ao domingo à tarde, tinham umas horas de folga, para poderem namorar

Como ninguém imaginava como seriam os futuros supermercados

Tudo lhes era levado a casa, pelos marçanos, carvoeiros, leiteiros, padeiros, ardinas, lavadeiras

Que rica vida, comparada com a de hoje, a da fidalguia!

Surgiu a televisão, a esferográfica, o metropolitano, o self servisse e muitas outras novidades

A esferográfica e a sua utilização: um advogado entrou num estabelecimento e gritou, “ com esta esferográfica já se podem assinar cheques e escrituras, foi publicado, hoje, no diário do governo. A caneta de tinta permanente, morreu”

A guerra levou todos os jovens para o ultramar

Os que voltaram não quiseram às suas terras voltar

Carris, PSP, GNR, comércio e indústria, nada de agricultura

Com as fronteiras fechadas, foram a salto para França, Suíça, Alemanha

Com as sus poupanças engordaram a Banca

Não faltavam anúncios, nas montras dos Bancos, anunciando a galinha dos ovos de oiro: as ações

Naqueles tempos, já o suplemento o Diário de Lisboa: a Mosca, lhes chamava, por palavras codificadas, os donos disto tudo

Neste jardim à beira mar plantado, tudo tinha de ser codificado, para que, pela PIDE, não fosse, apanhado   (PIDE: polícia Internacional de defesa do Estado)

Da liberdade, só nos tinha ficado, a da avenida” ( Avenida da Liberdade)

Liberdade, liberdade, quanto sangue e lágrimas nos, fizeste, derramar?!

 

 

 

 

 

 

 

 

      

 

 

 

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publicado às 16:07


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