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ONU
A eleição do Secretário- Geral das Nações Unidas
Pela primeira vez, eleito, seria, por voto secreto
Mas, pelos vistos, a inovação correu mal
Nas votações até agora efetuadas, não conseguiu chegar à frente, a indigitada
Assim, vai haver outra candidata, que já terá os cinco votos necessários
Em quase duzentas nações, só cinco é que contam, o resto é para enfeitar a jarra
Comissários, Secretários-gerais, Presidentes da C.E, ONU,FMI, respetivamente
Só são eleitos se estiverem na disposição de fazerem o que lhes pedirem: paus mandados, com raras exceções
As Nações Unidas não têm força, para impedir seja o que for
Assim, cada um mata onde e quando quiser: Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, etc.
Deitam a baixo aviões comerciais, matam centenas de pessoas, nada lhes acontece
Com grande lata dizem que são acidentes colaterais
Mal dos que cruzam os seus quintais
Este ensaio de democracia, na eleição do Secretário-geral da ONU
Se tivesse corrido bem, daria pano para mangas: todos a enaltecerem a nova metodologia
Assim, oxalá esteja enganado
Vai ser uma grande desilusão, mostrando que em setenta e um anos nada mudou
Manda quem pode, obedece quem deve.
Lisboa
Lisboa está, cada vez, mais encantadora
Do búnquer do século passado
Para a mulher sofisticada à procura de namorado
Não deixava o Tejo ver-lhe os artelhos
Agora lava-lhe os joelhos
O Marquês é que não tem sorte
Por mais túneis que construam
Não se livra do fumo dos escapes dos automóveis
Oito e oitenta: um mar de gente
Lisboa internacionalizou-se de tal maneira
Que o difícil e ouvir falar português
Quem, nela aterre desprevenido
Pode pensar que o avião foi desviado
Que Portugal foi comprado!
O que não é errado
Já vendeu tudo
E continua, cada vez, mais endividado
Habituámo-nos ao fiado
Todos os dias vamos ao mercado
Pedir dinheiro emprestado.
José Silva Costa
As mulheres do engenheiro
Às mulheres do engenheiro
Nunca lhes faltou dinheiro
As obras do parque escolar
Foram uma festa
E muito recreio
Com candeeiros de ouro
De muita aresta
Como é natural, a construção foi o principal:
Free-portes, TGV, aeroportos, autoestradas, barragens e sortes
Inaugurações com dezenas de autocarros, para mostrar, as ótimas construções
Foram de tal maneira os safanões
Que o País ficou na bancarrota: fome, miséria e morte
Para comemorar
Nada melhor, que em Paris, filosofar
Vai, agora, às mulheres explicar
Porque bem precisam, para a casa governar
A fórmula milagrosa e mágica
Que, em Paris, aprendeu
De, o dinheiro, inventar.
José Silva Costa
Sete Motivos Do Corpo
VII
Já quando pouco dista o escuro Averno
Da vida, atarda-se ela em passos lentos.
Se declina o moral p`ra entrar no Eterno,
Seguir não pode o êxito dos tempos.
Mais sobe o espírito mais lhe pesam membros.
Cresce o saber: são pergaminho os lábios;
Somem-se os olhos p`ra só ver por dentro.
Escutai-os, ó moços: são os sábios.
Curvam-se as costas para ler os fados
Que no seio da terra Gaia dita,
E de juízos em anos apurados
As rugas são na pele a douta escrita.
Gasta-se a carne nos túrbidos trabalhos
Que a alma aumentam e envelhecidas
Soam veladas as vozes como oráculos?
Moços, beijai as cãs! São as Sibilas.
Natália Correia
Sete Motivos Do Corpo
VI
Quando em halo de fêmea húmida e quente
São intimas ao fogo as ancas sábias,
Está o corpo maduro no seu tempo
Aromático de rosas esmagas.
São as Circes: fogueiras reclinadas
Como panteras em nuvens de magnólias;
Coxas versadas em abrir às lavas
Do desejo confins de lassas glórias.
Do amor, lúcida e plena anatomia;
Magníficas mulheres com flor e fruto;
Corpos de vagarosa fantasia
Que a febre afunda em estrelas de veludo.
Num esplendor de poentes envolvidas,
Sentadas têm pálpebras de violetas;
Mas erguem-se abrasadas; e despidas
São um verão a sair de meias pretas.
Capelinhas que lendas insinuam,
De segredos os olhos lhes sombreiam.
Dos ombros pendem-lhes mantos de volúpias.
São fábulas que os moços estonteiam.
E aos seus leitos de prata e tílias altas
Ébrios de lua sobrem os mancebos
Elas enterram-se nuas como espadas
Nas suas virilhas e armam-nos cavaleiros.
Ó sazonada carne que circula
De asas, abismos e suados cumes
O mistério do ovo, dando sombra
Ao pénis que procura o fim do mundo.
De
Natália Correia
Sete Motivos Do Corpo
V
Mocinhas gráceis, fungíveis
Mimosas de carne aérea
Que pela erecção dos centauros
Trepais como doida hera!
Por ardentes urdiduras
De Afrodite que abonais
Passais como queimaduras
E tudo em fogo deixais.
Ofegar de onda retida
Na ocupação epidérmica
De serdes a exactidão
Florida da primavera,
Todas de luz invadidas,
Sois, porém, as irreais
Bonecas de sol sumidas
No fulgor com que alumbrais.
Lá do fundo dos desejos
Chegais macias e quentes
Com violas nos cabelos
Nas ancas, quartos crescentes;
Nas pernas, esguios confeitos
Na frescura, o vermelhão
De uma alvorada que rompe
Em seios de requeijão.
Enleais, mas se enleadas,
Ó volúveis, ó felinas!
Saltais fazendo tinir
Risadas de turmalinas;
E com as asas do segredo
Que vos faz misteriosas
- Pois sendo divinas, sois
Do breve povo das rosas -,
Adejais de beijo em beijo
Já que para gerar assombros
Vicejam as folhas verdes
Que vos farfalham nos ombros.
Ó doçaria que em línguas
Acres sois torrões de mel,
Quando idoneamente ninfas
Vos vestis da vossa pele!
Se a olhares venéreos furtar-vos
Em roupas não vale a pena,
Pois mesmo vestidas estais
Nuinhas de graça plena,
De esbelta nudez plantai
Róseos calcanhares nos dias
Fugazes, não vá Vulcano
Levar-vos para sombras frias;
Não sequem os anos corpinhos
De aragem que os deuses sopram,
Que os anos são os malignos
Sinos que pela morte dobram.
Mocinhas fúteis que sois
Da vida as espumas altas
Leves de não vos pesar
O peso de terdes almas;
Que essa força de encantar,
Ó belas! cria, não pensa.
Ser perdidamente corpo
É a vossa transcendência.
( Natália Correia)
Sete Motivos Do Corpo
IV
Vede o estádio em transe: é a oferta
À formosura em seu virtuoso sólio.
Como um espelho corre para o sol o atleta
Recomeçando a geração de Apolo.
Corpo garrido de seiva desabrida
Caudaloso a crescer no âmbar rijo
De carne indómita; músculo da vida
Na hora juvenil do seu prodígio.
No alor do prélio, tropel de anjos pedestres
Corre o ouro suado dos efebos;
Vai por cima do tempo e retrocede
A purpura sem fim de areais gregos.
Estreme, a beleza o jogo faz sagrado
E voam discos de clarões acesos
Por estátuas que giram. O estádio
Fica suspenso no limiar dos deuses.
( Natália Correia)
III
Sete Motivos do Corpo
Com a paixão desconcerta o pensamento
E ama. É física a profundidade.
Inspira Vénus o desejo ardente
Para nos mover à última ansiedade.
Num ser unívoco o amor enleia
Os corpos nus. Na área da magia
Rompe a brancura; e cresce, ao tempo alheia,
A onda do prazer, causa da vida.
Segura do infinito a carne aberta
Atrai o sangue que corre para a verdade
Procurando na jóia mais secreta
Do corpo a inicial da eternidade.
Um sol em agonia a carne gera
E vai o espasmo ao mais fundo da alma
Buscar o grito casto que se enterra
Na terra fêmea e faz cair a máscara.
Langues e lívidas esfolham-se então nos corpos
Estrelas caídas do trono da loucura.
O sangue enrosca-se e faz sair dos poros
Um fumo de almas que mastigam nuvens.
( Natália Correia)
Sete Motivos Do Corpo
II
Com a essência das flores mais coniventes
Na formosura, prepara o banho, Lídia.
Os anos murcham e só no corpo sentes
Quente e fagueira a passagem da vida.
Não digas, céptica, que a carne é vã e passa
Desfeita em sombra, o negro rio. O Orco
Perséfone raptou rendido à graça.
Talvez no além precises do teu corpo.
Estima-o; e à beleza mais demora
Darão os fados na vida passageira.
Tépida a água, rescenda a musgo e a rosa.
De Paros seja o mármore da banheira.
Nua e rosada imerge na carícia
Emoliente da água perfumada,
E as folhas lassas dos membros espreguiça
Como uma humanizada flor aquática.
Não te esqueças porém de no amavio
Da água verter um brando óleo de malvas
Que te aveluda as coxas e mais brilho
Te dá ao polimento das espáduas.
E saindo do banho como a deusa
Sai, das macias ondas, nacarada,
Ergue-te para o amor, estátua de seda
Toda coberta com pérolas de água.
Por fim veste a camisa mais picante;
Com pó de ouro empoa o teu cabelo.
E vai para a alcova onde o teu amante
Te espera radioso e fiel como um espelho.
(Natália Correia)
Sete Motivos Do Corpo
I
Não te importe, ó mortal, depois de morto
Desaparecer na curva do caminho.
Aqui és corpo; e injuriar o corpo
É pisar a sombra do divino.
Lúcida a carne, num fugaz milagre,
É de eternos assuntos a medida:
De ar, água, terra e fogo sumidade,
Lugar de amor onde se ganha a vida.
Se concorrerem na alma embuste e danos,
O corpo em qualquer língua é verdadeiro.
P`ra que ao além não fie a Parca enganos,
Retrata-nos a morte em corpo inteiro.
Vem das estrelas o sangue que nos guia
E em amorosa perfeição na carne
Está toda a eternidade resumida.
Corpo! Sombra de deus. Simples verdade.
(Natália Correia)
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