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A autoestrada para o Algarve
Aos três brasileiros, dois guineenses e um ucraniano, que faleceram na construção de um viaduto, no concelho de Almodôvar
Já Dezembro era entrado
Mais um ano quase acabado
Vindos de tão longe, desafiar o fado
Na auto-estrada, seu fim foi chegado.
Madrugada negra, no viaduto começado
Quatro da manhã, ferro e cimento
No escuro, surgiu o desabamento
Seis vidas ceifadas, num momento.
Trabalhar, de noite ou de dia
Ao vento ou à chuva fria
À procura de uma melhoria
Numa vida cheia de monotonia.
Viestes do Brasil, da Ucrânia e da Guiné
Com muitos projectos e muita fé
Procurar, em Portugal, melhor sorte
Mas aqui, encontrastes a morte.
A trinta e cinco metros de altura
Numa vida, muito, muito dura
Encontraram a sua sepultura
Numa noite muito fria e escura.
A construção da auto-estrada tem de seguir em frente
Ainda que esta venha a ser o cemitério de muita gente
Que aguarda a sua conclusão impacientemente
Porque anseia chegar, depressa, ao Algarve, quente.
Faz de conta que não foi o Passos que escreveu a Sócrates, oferecendo-se para meter uma cunha ao FMI
Ora, o PS foi obrigado, contra vontade, a chamar a troica, mas o PSD é que desejou , que ela viesse, para justificar o ajuste com o 25 de Abril, como disse Catroga.
Faz de conta que não foi Passos que disse que não ia salvar empresas mal geridas, diga-se Grupo BES, que já nos custou 19 milhões de euros, através do Banco de Portugal.
Escondendo-se atrás do Banco de Portugal, porque há políticos que nunca assumem as suas responsabilidades.
Faz de conta que o ano letivo começou na data prevista, que os professores não abandonaram os alunos, para participarem na campanha eleitoral, provando que podemos planear a nossa vida, porque este país continua a ser o país da brincadeira.
Faz de conta que as pessoas que tiveram de tomar conta das crianças, durante o tempo que estariam nas aulas, não faltaram ao trabalho, fazendo com que nos mantenham nos mais produtivos!
Num país normal, a colocação dos professores é feita antes de começar o ano letivo.
Faz de conta que esta campanha eleitoral tem sido muito esclarecedora! Ainda não falaram do passado, nem de Sócrates, apenas o que pensam fazer na educação, saúde e justiça.
Faz de conta que vivemos no paraíso, pelo menos , é o que dizem os Governantes.
Faz de conta que ninguém imigrou nestes últimos anos. Pudera, por que razão abandonariam o paraíso?
Tanta guerra, tanta intolerância
Tanta fome, tanto desespero
Tanta esperança, tanto medo
Tanta água para um cemitério!
Tanta criança inocente
Ao colo de quem ambicionava ser Gente
Tanta aposta num dia diferente
Tanta coragem para seguir em frente!
Morrer, por morrer, vale mais correr
Do que ouvir os filhos de fome gemer
Porque parte o coração, só de ver
A tantos sacrifícios, os submeter!
Quem é que consegue entender?
O que no Mundo está a acontecer
Quem souber, que o diga
Porque custa muito, ver
Tanta gente a morrer!
José Silva Costa
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