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Cinquenta e dois anos interrompidos, por uma guerra estúpida
Todas as guerras foram e serão estúpidas
Não tive hipóteses de fugir, numa tive de participar
Mas, a minha arma nunca ninguém a viu ou ouviu disparar
Ainda que a minha especialidade tenha sido atirador de Cavalaria
Meteram-me num barco, poucos dias antes do homem, à lua, chegar
Para que não visse “esse grande passo para o homem, um pequeno passo para a humanidade”
Ia fazer vinte e quatro anos!
Rasgaram-me o coração, fazendo-me abandonar as minhas rosas
Dois anos que me pareceram cem!
Após um ano, não aguentei mais, vim de férias, vê-las
Mas, o paludismo quis-me internar, no Hospital Militar
Quarenta graus de febre fizeram-me delirar
A médica não sabia como o curar
Pedi-lhe para me receitar um a injeção de resoquina
Que foi muito difícil de encontrar
Que me permitiu, com elas, o mês, passar
Mas, o pior foi ter de, à guerra, regressar
A minha filha, com vinte meses, quando se despedia, dizia: “ até logo”
Naquele momento pensei, até logo ou até nunca mais
Foi a separação mais dolorosa, que alguém possa imaginar
Mais catorze meses sem as ver até, em outubro de 1971, regressar
Mas não deixo de todos os dias pensar nos que tiveram, ainda, mais azar
“ Voltaram num caixão de pinho, do outro lado do mar”
Se os homens soubessem e quisessem falar
Se reconhecessem os outros, como irmãos
Compreenderiam, que as guerras nunca são a solução !
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